O fortalecimento da indústria e da economia têm que andar lado a lado com a intenção de descarbonização. É o que defende a diretora de Estudos Setoriais do IPEA, Fernanda De Negri, que participou nesta manhã do seminário Políticas Indústrias no Brasil e no Mundo, realizado na Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Segundo ela, não será possível haver crescimento econômico ou redução das desigualdades se o modelo de produção não for transformado.
“[Para mudar os paradigmas de produção, são necessários investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação e políticas integradas. Ou seja, uma série de ações que apontam na mesma direção, que juntem subsídios, subvenções, políticas de crédito e tributárias e regulações”, disse a pesquisadora.
Transição energética é central e transversal em toda a nova política industrial
O secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços no Ministério do Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços (MDIC), Uallace Moreira, endossou a professora do Institute for Innovation and Public Purpose (IIPP) da University College London Carlota Perez ao classificar a transição energética como uma grande “janela de oportunidade” da política industrial.
Para Uallace, essas “janelas de oportunidades" podem ser otimizadas pelo adensamento e pela diversificação das cadeias produtivas, assim como do ecossistema formado ao redor delas. Isso inclui os institutos de pesquisa e inovação, universidades, empresas nacionais e estrangeiras e a articulação entre o setor público e privado.
O setor privado é estratégico para a execução desses projetos, não é o setor público que os fazem. O setor público dialoga e constrói um cenário para que o setor privado invista, crie emprego e renda. - Uallace Moreira
Mesmo que a transição energética seja uma missão independente dentro do Nova Indústria Brasil – a nova estratégia brasileira de desenvolvimento industrial – as demais missões, como agroindústria, saúde, defesa, transformação digital e bioeconomia, dependem dela.
“Todas as missões dialogam com a necessidade de transição energética, portanto, em essência, a NIB tem como grande elemento de política industrial a exploração dessa vantagem competitiva”, detalhou o secretário.
Política industrial verde: como adotar estratégias voltadas a transformação ecológica
Previsibilidade é investimento
O secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda, Rafael Debeux, ressaltou o Plano de Transformação Ecológica, de autoria da pasta, ao mencionar os eixos em torno dos quais o debate deve estar pautado para promover a política industrial.
“Para termos um novo modelo de desenvolvimento, é preciso reorientar os estímulos existentes na economia para passarmos para um padrão que não seja meramente extrativo, sem agregação de valor, destruidor do meio ambiente e concentrador de renda”, salientou.
Debeux elencou exemplos de medidas e incentivos a esse novo modelo de desenvolvimento:
Criação do mercado regulado de carbono
Emissão de títulos soberanos sustentáveis
Debêntures incentivadas e debêntures de infraestrutura
Captação financeira de longo prazo
Taxonomia sustentável
O secretário-executivo destacou que a taxonomia sustentável é um elemento essencial para atrair investimento para políticas de carbono zero, uma vez que só com objetivos definidos é possível empenho financeiro.
“Quando tivermos o documento [de taxonomia sustentável], ele servirá tanto para o Fundo Clima, quanto para as outras instituições, inclusive as privadas, classificando o que é sustentável e o que não é. Vale lembrar que ele servirá como um farol, apontando para onde os recursos serão apontados”, considerou Debeux.
Inovação não é para qualquer um
A diretora de Energia e Descarbonização da Vale, Ludmila Nascimento, elegeu a competitividade como um dos maiores desafios para a transição energética. Uma vez que ela envolve novas tecnologias, o risco do investimento é alto. Por isso, é necessário que as soluções sejam minimamente competitivas a longo prazo.
Para Ludmilla, a infraestrutura e a mão de obra também são pontos centrais na nova política, pois é necessário modernizar o que temos e qualificar os trabalhadores para trabalhar com tecnologias novas.
A representante da segunda maior mineradora do mundo relembrou que a mudança na cadeia produtiva virá a reboque de investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Desta forma, será possível dar escala às soluções tecnológicas.
Ludmilla endossou a importância da taxonomia sustentável para a competitividade do país.
“A taxonomia sustentável é fundamental para a questão da certificação. Ela é muito importante para garantir que os produtos são de baixo carbono e que isso possa gerar, eventualmente, premiações em outros mercados mais avançados. São retornos de investimentos”, afirmou.