Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) reagiu com cautela ao anúncio pela Petrobras, esta semana, do fim da política de Preço e Paridade Internacional (PPI) para definição do preço do diesel e da gasolina, adotada pela estatal desde 2016. Agora as referências de mercado serão o custo alternativo do cliente como prioridade e o valor marginal para a Petrobras. Segundo a estatal, o mercado internacional ainda será levado em conta, mas com base em outras referências para cálculo.
Pelo sistema anterior, o preço dos combustíveis variava conforme o preço internacional do barril do petróleo e pela cotação do dólar. Assim, o preço dos combustíveis flutuava com as tensões do mercado internacional, mesmo que essas ocorrências em nada se relacionassem com o mercado interno.
Para o presidente da Fieg, Sandro Mabel, a nova proposta não está totalmente clara e delimitada. “O governo afirmou que para a definição dos preços passará a levar em conta o custo alternativo para o cliente (valor a ser priorizado na precificação) e o valor marginal para a Petrobras. O custo alternativo para o cliente contempla as alternativas de suprimento, ou seja, a decisão da Petrobras sofrerá influência dos preços correntes dos combustíveis. Enquanto isso, o valor marginal se mostra como o custo de oportunidade, impedindo que a companhia venda a um preço baixo demais ou menor que os custos”, afirmou.
O dirigente da indústria acrescentou que “a mudança em si ficou difícil de ser mensurada, pois faltam informações que delimitem essa nova política de precificação, como por exemplo, qual será o peso de cada fator no cálculo do preço ou ainda como se dará o reajuste no curto prazo ou, ainda, se haverá compromisso com o preço internacional, evitando-se uma disparidade. Mas é possível afirmar que deverá ocorrer uma redução das oscilações dos preços, que não mais estarão atrelados às variações do mercado internacional. Por outro lado, essa nova política pode diminuir a transparência e a previsibilidade”, ponderou Sandro Mabel.
Os economistas da Fieg Januária Guedes e Cláudio Henrique Oliveira detalham dados da Federação Única dos Petroleiros, segundo os quais a PPI gerou um aumento de 223,8% do botijão de gás de cozinha, 112,7% na gasolina e 121,5% no diesel. Para os economistas, com essa nova política de preços, a tendência é de que os aumentos sejam mais controlados, para não impactar tão fortemente a inflação, uma vez que combustíveis têm peso considerável na composição do IPCA.
Mas os economistas alertam que, se por um lado, espera-se uma menor volatilidade e oscilação dos preços, o que favorece o consumidor industrial, e de certa maneira reduz o impacto sobre os custos da produção, principalmente na logística e escoamento da produção, por outro lado, a decisão pode gerar uma apreensão nos acionistas, e até mesmo uma fuga de capital da companhia (falta de investimentos poderá ocorrer). “Ou seja, a sociedade deve ficar atenta com os novos comunicados e com a forma como essa nova política será conduzida, pois corre-se o risco de, em algum momento, a companhia praticar preços não competitivos, o que pode comprometer os resultados financeiros, ou mesmo não conseguir absorver a volatilidade do mercado internacional e transferir essa conta para o Tesouro Nacional. E isto já aconteceu no passado”, lembrou Januária Guedes.