Fonte: Correio do Estado
Com falta de gado para
abate, Estado tenta importar animais do Paraguai
Frigoríficos conhecidos
paralisados por falta de matéria-prima; Ministério da Agricultura ainda
não aprovou pedido
02/03/2021 08:00 -
Beatriz Magalhães, Súzan Benites
A
falta de disponibilidade de gado para abate em Mato Grosso do Sul já pode ser
sentida com a paralisação de algumas plantas frigoríficas.
De
acordo com os representantes do setor, essa foi a principal motivação para que
o pedissem autorize ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa) para importar animais do Paraguai.
O
pedido foi enviado pelo Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados
de Mato Grosso do Sul (Sicadems) nesta semana.
Segundo
o vice-presidente do sindicato, Régis Luís Comarella, alguns frigoríficos estão
com uma produção paralisada por falta de matéria-prima.
“Foi
solicitado, por meio do Sicadems, que a gente vai abater [animais importados]
em razão da ociosidade das plantas. E também o boi do Paraguai está com o
preço bem abaixo do nosso aqui. O pecuarista está relutando e quer
[comercializar] a arroba a R $ 300.
O
frigorífico Boibras de São Gabriel do Oeste não abateu ontem [na
segunda-feira], o Frizelo não abateu dois dias, em Juti, e outros [também não
abateram] ”, disse.
De
acordo com os dados da Scot Consultoria, a arroba do boi é comercializada a US
$ 45,75 no Paraguai, cerca de R $ 244,76.
Em
Mato Grosso do Sul, atualmente a arroba é cotada a R $ 280,50, conforme a
consultoria.
Dados
da Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul) apontam que a arroba do
boi gordo saiu do preço médio de R $ 170,56 em janeiro de 2020 para R $ 269,80
em janeiro deste ano - alta de 58%.
Segundo
o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e
Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, uma solicitação de não visto o
preço, mas, sim, a manutenção do funcionamento das indústrias.
“Todos
os frigoríficos estão com escala abaixo, com ociosidade muito grande, alguns
até paralisando suas atividades em função da baixa disponibilidade de
bois. Não é só a questão do preço.
Houve esse pedido ao Ministério, com cópia para a
Secretaria de conhecimento. Eles gostariam de estabelecer uma cota para
trazer gado do Paraguai para que abater no Estado. É um pedido do setor
para que ele mantenha uma escala ”, explica Verruck.
SANIDADE
Verruck
ressalta que as condições sanitárias do Paraguai garantem que não seja um
problema trazer os animais para o Estado.
“Esse
animal que vem para abate, ele vem em um caminhão diretamente para o
frigorífico. E não tem problema, porque o Paraguai tem o mesmo status de
MS, livre de febre aftosa com vacinação. Então esses animais já vacinados
”, detalha.
O
Ministério da Agricultura disse, em nota enviada ao Correio do Estado, que a
importação de gado do Paraguai para o Brasil ainda não está autorizada.
“O
tema vem tratado entre os Ministérios da Agricultura do Brasil e do
Paraguai. Não há autorização para uma empresa.
Caso
os entendimentos entre os Ministérios da Agricultura do Brasil e do Paraguai
venham a viabilizar a autorização de importação, esta valerá para qualquer
empresa que cumpra os requisitos sanitários especificados ”, conclui a nota.
O
relatório do Mapa aponta que as indústrias inscritas no Serviço de Inspeção
Federal (SIF) abateram 3,1 milhões de bovinos em Mato Grosso do Sul no ano
passado.
O
total foi 12,73% inferior ao registrado no mesmo período de 2019.
ECONOMIA
Para o
secretário, a regularização da oferta de animais é importante para manter a
economia do Estado.
"Sob
o ponto de vista econômico seria importante, porque mantém os empregos nos
frigoríficos e os taxa de redução, favorecendo a questão da economia”,
considera Verruck.
O
economista Michel Constantino explica que o Paraguai já exporta para o Brasil
em torno de US $ 20 milhões em carne fresca, refrigerada ou congelada (dados de
2019).
O
efeito econômico com a maior oferta de gado deve ser a redução de preços aos
consumidores.
“A
demanda está alta no mercado interno para carne e derivados, e os frigoríficos
de MS estão com capacidade de produção ociosa. A maior oferta de gado deve
trazer a ativação da produção local pelos frigoríficos parados.
Pode
aumentar o número de funcionários admitidos, e uma maior oferta de gado vai
diminuir os preços para o consumidor final de Mato Grosso do Sul ”, analisa.
CONSUMIDOR
Conforme
adiantado pelo Correio do Estado , o preço da
carne ao consumidor final está mais caro.
Segundo
o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese),
de janeiro a dezembro, os cortes bovinos aumentaram 31,69%, saindo de R $ 26,
em média, para R $ 34,24.
Para a
supervisora técnica do Dieese-MS, Andreia Ferreira, os preços ao consumidor
final devem demorar a cair. “A oferta vem em queda há um bom tempo, e não
é algo que recupera fácil. Não acredito que o preço da carne baixe os
próximos seis meses ”, afirma.
Uma
pesquisa da reportagem aponta que em Campo Grande o corte mais barato é a
costela, que varia de R $ 17,99 a R $ 27,98. Enquanto o mais caro é uma
picanha, que vai de R $ 49,90 a R $ 87,98.