Fonte:
BeefPoint
Frigoríficos já encaram problema na venda ao Irã
O recrudescimento da crise entre Estados Unidos e Irã já atrapalha os
frigoríficos brasileiros que vendem carne bovina ao país persa, segundo fontes
do setor privado. No acumulado deste ano, o Irã é o terceiro maior importador
da carne nacional, só atrás de China e Hong Kong. Entre janeiro e maio, os
exportadores receberam mais de US$ 200 milhões para enviar carne ao mercado
iraniano, o que representou quase 8% do total exportado pelos brasileiros.
Ontem, o presidente americano, Donald Trump, anunciou uma nova rodada de
sanções ao Irã. Na última semana, a tensão entre os dois países se intensificou
após a derrubada, pelos iranianos, de um drone dos EUA. Washington chegou a
preparar um ataque militar ao território iraniano, mas Trump abortou a ofensiva
na última hora.
Para os frigoríficos brasileiros, a escalada no conflito diplomático
reforçou a decisão dos exportadores de colocar o pé no freio. Ao Valor, o dono
de um frigorífico de médio porte afirmou que há quase dois meses não fecha
novos contratos de exportações para o Irã.
“Faz tempo que eles não fazem novos negócios”, ressaltou um executivo de
um grande exportador, acrescentando que a redução das vendas reflete a ausência
de leilões de importação do órgão estatal iraniano. O país não vem conseguindo
ter acesso a divisas.
Além dos reflexos negativos da pressão de Trump, os exportadores de
carne bovina enfrentam dificuldades adicionais para conseguir bancos no Brasil
que aceitem receber os recursos oriundos do Irã.
No início de maio, funcionários do Banco Paulista foram
presos em um desdobramento da Operação Lava-Jato. A instituição financeira era
uma das poucas que firmava contratos com os frigoríficos para viabilizar o
recebimento dos recursos das vendas ao Irã. “Até por compliance, temos que
buscar outros bancos”, afirmou outro executivo.
Procurado
pelo Valor, o embaixador do Brasil no Irã, Rodrigo de Azeredo Santos, ponderou
que ainda é preciso avaliar os impactos das novas sanções americanas. “Vamos
aguardar um pouco mais para entender o alcance”, afirmou, ressaltando que os
produtos agrícolas não estão na lista.
De
qualquer forma, a dificuldade em fechar novos contratos tende a aparecer nas
estatísticas nos próximos meses, reduzindo o ritmo de crescimento das vendas.
Entre janeiro e abril, os embarques diretos de carne bovina para o Irã renderam
US$ 114 milhões, somando 32 mil toneladas, segundos dados da Secretaria de
Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Ministério da Agricultura. Trata-se
de uma alta de 12% ante as 28 mil toneladas de igual período do ano passado.
Ao
volume de exportações diretas, deve ser somada às vendas indiretas, por via
terrestre, a partir de Turquia, Emirados Árabes Unidos e Omã. Os embarques
indiretos ao Irã visavam a driblar as restrições dos armadores após as sanções
dos Estados Unidos. Segundo dados obtidos pelo Valor, os embarques indiretos de
carne bovina ao Irã totalizaram outras 44 mil toneladas nos primeiros cinco
meses do ano. Agora, no entanto, até as vendas indiretas começam a ser
afetadas, conforme fontes do setor privado.
Se
considerada as vendas diretas e indiretas – o Ministério da Agricultura ainda
não compilou os números de maio -, os embarques chegam a 85 mil toneladas,
segundo uma fonte da indústria.
Além
das carnes, o Irã também é um grande comprador de grãos do Brasil. De acordo
com os últimos dados compilados pelo Ministério da Agricultura, os iranianos
gastaram US$ 829 milhões para comprar produtos agrícolas brasileiros entre
janeiro e abril. Desse total, US$ 303 milhões foram gastos para importar soja
em grão e US$ 279 milhões para comprar milho.
Assim
como os frigoríficos, as tradings que comercializam grãos podem ter as vendas
afetadas pelas sanções. Nesse caso, porém, a existência de companhias chinesas,
como a Cofco, pode atenuar o problema de fornecimento. A China mantém boas
relações com o Irã, fornecendo divisas ao país persa a partir da importação de
petróleo.
Fonte:
Valor Econômico.