Cerca de 65% dos potiguares consomem água mineral natural, mas a ingestão de água alcalina, tem ganhado força através de empresas que apontam benefícios desse produto. A Doutora em Microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em saúde pública, Petra Sanchez, esclarece os mitos e verdades sobre a acidez da água e a sua influência na saúde humana.
Autora de livros na temática ambiental e responsável por várias publicações em periódicos científicos, Petra Sanchez foi professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie de 1991 a 2015, e durante 28 anos exerceu funções de pesquisadora científica e diretora da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB). Em passagem por Natal recentemente, ela falou sobre a qualidade da água e conversou com a Tribuna do Norte sobre a água que consumimos no RN.
O que é o pH e qual a sua influência no organismo humano?
O potencial hidrogeniônico (pH) é um parâmetro fisioquímico muito utilizado na determinação do grau de acidez, neutralidade ou alcalinidade de um líquido ou solução. A escala de pH varia de 0 a 14, sendo considerado ácido o mais próximo de 0 e mais alcalino, o mais próximo de 14. O pH neutro seria 7, ou próximo desse número, pois pode variar de acordo com a temperatura. Já o pH do nosso organismo varia muito, por é bem regulado naturalmente e é importante para que os órgãos exerçam suas funções, como por exemplo, o estômago, que tem pH fortemente ácido, na faixa de 1 a 3. Após o alimento passar pelo estômago, o pH é alterado naturalmente pelo suco pancreático no intestino e se torna alcalino para possibilitar a atuação das enzimas do intestino delgado e pâncreas em um pH mais neutro, de 7 a 8, para que os nutrientes ingeridos sejam absorvidos pelo sangue.
O pH é fator determinante para a água ser potável?
Não. O pH das águas de consumo humano pode variar muito, encontrando-se águas com pH 4 até pH 9,5 e tem relação direta com elementos naturais, como: temperatura, quantidade de sais minerais, oligoelementos dissolvidos e dióxido de carbono. O pH da água de consumo humano, qualquer que seja a sua procedência – água de rede pública clorada, água mineral natural ou água potável de mesa -, não apresenta nenhum efeito específico à saúde humana, motivo pelo qual é um parâmetro que define a sua potabilidade.
Qual o valor ideal da água potável?
As legislações referentes à água potável clorada recomendam que a água da rede pública de distribuição seja preferencialmente mantida com os valores de pH, entre 6 e 9,5. Essa recomendação visa apenas garantir a tratabilidade da água e não tem qualquer relação com os indicadores da saúde.
Ás águas minerais do Rio Grande do Norte tem pH ácido. Existe algum risco para a saúde da população?
O pH das águas minerais naturais pode variar de acordo com a fonte e passagem da água mineral por rochas naturais de diferentes composições, por isso, é muito frequente encontrar águas minerais com pH entre 4 e 9. O pH da maioria das águas do Rio Grande do Norte situa-se em uma média de 4,5 a 6, mas isso não significa que uma água com pH ácido seja melhor ou pior que uma água com pH alcalino, pois apenas indica a sua concentração de íons hidrogênio (H+), os quais podem variar com a temperatura e a composição química da água. Cada água mineral tem sua própria digital, e o pH não representa risco à saúde e nada tem a ver com.
Dizem que pode contribuir ou intensificar casos como diabetes, osteoporose, artrite e outras doenças crônicas. Isso é verdade?
As informações relativas à necessidade de água ou alimentos com pH alcalino estão causando confusão ao consumidor. Independentemente de qual seja o pH da água, alimentos ou bebidas, todos passarão pelo mesmo processo de digestão: acidificação no estômago, alcalinização no intestino, até a sua absorção.
Também alegam que a água ácida desequilibra o pH do sangue, o que acarreta na produção de substâncias que consomem o cálcio do próprio organismo. Existe esse risco?
O nosso organismo possui mecanismos complexos para garantir o equilíbrio ácido-base, a fim de manter o pH do sangue em um nível adequado, entre 7,35 e 7,45. Portanto, água ou alimentos ingeridos não causam desvio do pH sanguíneo que possam prejudicar a saúde. É muito importante que a população seja esclarecida sobre as informações sensacionalistas com fins comerciais. As leis brasileiras são rigorosas quanto à qualidade da água mineral natural envasada, e as empresas devem adotar os padrões de qualidade baseados nos parâmetros do Codex Alimentarius – coletânea de padrões internacionais para segurança dos alimentos – e da Organização Mundial da Saúde (OMS). É importante destacar que água, bebidas ou alimentos, quando ingeridos em quantidades adequadas não causam impacto no pH do estômago que possa prejudicar a saúde, independentemente de terem pH ácido, neutro ou alcalino.