A atividade industrial do Distrito Federal no mês de março foi afetada pela crise de saúde global causada pela Covid-19. A informação está na pesquisa Sondagem Industrial, que mostra recuo na produção, no emprego e no uso da capacidade instalada do setor.
Os dados foram coletados entre 1º e 14 de abril e indicam a influência dos efeitos da Covid-19, que forçou o governo local a decretar medidas que reduziram a circulação de pessoas, como o fechamento do comércio.
O indicador que mede a produção industrial recuou 22,1 pontos em relação a fevereiro, indo a 24,6 pontos em março. O índice vinha abaixo da linha dos 50 pontos desde dezembro, já mostrando queda na produção, porém o número medido em março é o mais baixo registrado desde o início da série histórica, em 2010.
Com a queda da produção, a utilização da capacidade instalada também caiu, chegando a 60,6% — recuo de 4,4% em relação a fevereiro. Este foi o percentual mais baixo dos últimos 12 meses, indicando menor utilização do parque industrial do DF.
A redução do ritmo de produção fez o nível de emprego também recuar. O índice é medido em uma escala que vai de 0 a 100 pontos e ficou em 44,8 em março. Números abaixo de 50 indicam que a tendência de emprego está em queda.
Segundo o presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Jamal Jorge Bittar, a redução da atividade industrial já era esperada. “Apesar da indústria não ter sido afetada diretamente pelos decretos de isolamento social, necessários para a contenção da Covid-19, o fechamento do comércio resultou em uma queda de demanda por produtos pelos consumidores, movimento que refletiu na redução da produção industrial”, afirma Jamal.
Principais problemas
A cada três meses, a Sondagem Industrial pergunta aos empresários quais são os principais problemas enfrentados pelo setor. A demanda interna insuficiente já era apontada pelos empresários como o principal problema no último trimestre de 2019 e teve forte alta de indicação para os três primeiros meses de 2020. Para 56,2% dos entrevistados, a baixa demanda local é o maior problema da indústria, contra 36,5% de apontamentos na pesquisa anterior.
Seguem como problemas mais citados a elevada carga tributária, citada por 28,7%, e a falta ou o alto custo de matéria prima, com 27,6% das citações.
Condições financeiras
Os índices de situação financeira e de acesso ao crédito também apresentaram piora no primeiro trimestre de 2020 em relação ao último de 2019. A satisfação com as condições financeiras da empresa, que vinham em tendência positiva e atingiram 48,2 pontos na última pesquisa, se aproximando da linha dos 50 pontos, que divide satisfação ou dificuldade, caiu para 38,9 pontos.
E mesmo com as medidas dos governos local e federal de abertura de linhas de crédito para empresas, na tentativa de amenizar os impactos da crise da Covid-19, o índice que mede o acesso ao crédito caiu. Assim como no índice de situação financeira, a avaliação do empresário sobre o acesso ao crédito vinha melhorando desde o primeiro trimestre de 2019, quando marcou 40,5 pontos, até chegar ao último, com 48,8. Em março, o índice caiu a 39,5, recuando 9,3 pontos.
Expectativas
Para os próximos seis meses, as expectativas do industrial são pessimistas. O empresário prevê que a queda na demanda por produtos continuará ocorrendo nos próximos seis meses e o indicador foi de 63,5 para 32,3 pontos.
Quando questionado sobre a expectativa de emprego para os próximos meses, o gráfico também mostra queda, indo de 54,2 pontos para 33,5 em abril.
Nos dois casos os índices ficaram abaixo da linha dos 50 pontos, fato que não havia ocorrido nos últimos doze meses.
Intenção de investimento
Em um cenário de incertezas, o índice que mede a intenção de investimentos no DF caiu 29,1 pontos na passagem de março para abril e chegou a 13,7. O índice vai de 0 a 100 e demonstra que, diante da crise, o empresário não pretende aumentar investimentos em compras de máquinas e equipamentos, ampliação da planta, em pesquisa ou em desenvolvimento.
Para o presidente da Fibra, o momento é de cautela. “O empresário está aguardando a evolução dos eventos para decidir como vai agir, se deve ou não investir. Neste momento o sentimento é negativo, mas dependendo da evolução da crise e de como os governos local e federal vão conduzir a situação, esse número pode se inverter e as intenções de investimento serem retomadas”.