Fieg recebe empresário César Helou, da Piracanjuba/Laticínios Bela Vista, para falar sobre trajetória da indústria e desafios do setor produtivo. Palestra fez parte da programação de encontro do Conselho Temático do Agronegócio (CTA)
Insegurança jurídica, alta carga tributária, ausência de políticas concretas para incentivo à industrialização. Esses foram alguns dos temas tratados em reunião do Conselho Temático do Agronegócio (CTA) da Fieg, realizada sexta-feira (01/04) em sistema híbrido – na Casa da Indústria e via Zoom Cloud Meetings – com participação do empresário César Helou, da indústria Piracanjuba/Laticínios Bela Vista, com unidades fabris em Goiás, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
A despeito das adversidades presentes na pauta de discussões, a mensagem de otimismo foi clara. "Empreender é muito bom, mesmo no Brasil, que é um país muito difícil", afirmou o sócio-proprietário da Piracanjuba, ao falar sobre sua trajetória na empresa nas últimas três décadas. O encontro foi acompanhado pelo presidente da Fieg, Sandro Mabel; pelo vice-presidente André Rocha; pelo secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Tiago Mendonça; e pelo presidente do CTA, Marduk Duarte.
"Passamos por todos os planos econômicos que o Brasil teve. Infelizmente, quem legisla, apesar de não entender de tudo, não pede opinião para quem está na ponta, o empresário. Mesmo com as adversidades, sempre aproveitamos todas as oportunidades, saindo melhor que entramos", relembrou César Helou, ao comentar os momentos vividos à frente da Piracanjuba diante dos diversos planos econômicos que se sucederam desde 1985 e, mais recentemente, com os desdobramentos trazidos pela pandemia. "Em 30 anos, vimos nossa capacidade de processamento saltar de 2 mil litros de leite ao dia para 5 milhões", comentou.
Entre os maiores desafios do Brasil, ele elencou a educação, a tecnologia e a questão tributária. "Precisamos muito de educação e tecnologia. A indústria evoluiu e precisamos de pessoas com formação. Contamos com o Sesi e o Senai para isso e parabenizo a Fieg pelo investimento de meio bilhão programado para os próximos anos, justamente para ampliar essa qualificação", afirmou.
Com relação a área tributária, o industrial foi taxativo. "O Brasil precisa de uma simplificação tributária, e não de uma reforma que aumenta impostos. É um erro apoiar a Reforma Tributária da forma que está sendo discutida no Congresso", alertou, reiterando a necessidade de se facilitar o empreendedorismo e a atração de investimentos.
César Helou destacou ainda que o Brasil precisa de uma política nacional de incentivo à industrialização. "Sempre fui contra a Lei Kandir! Acho um erro do nosso Legislativo isentar de impostos a exportação de produtos in natura. Esse incentivo tinha que ser para produtos industrializados", afirmou, questionando também a recente decisão do governo federal que zerou o imposto de importação do etanol e de seis produtos alimentícios. "No longo prazo, isso vai prejudicar a indústria nacional, sem que se converta em queda de preços para o consumidor".
Bandeira da atual gestão da Fieg, a industrialização de produtos in natura em solo goiano é defendida pelo presidente Sandro Mabel para salto no desenvolvimento econômico do Estado. "Goiás vai crescer quando pararmos de exportar in natura e industrializar aqui. Precisamos transformar grãos e minérios, agregando valor e gerando mais empregos para os goianos. Para isso, é fundamental criar atratividade dentro do Estado. O produtor precisa ser incentivado e a indústria também ter incentivos para comprar desse produtor", sustentou.
O líder da Fieg afirmou também que a entidade tem se preparado para esse momento. "Enquanto isso, formamos mão de obra qualificada para que as empresas tenham esse pessoal quando vierem para Goiás. A formação profissional será diferencial estratégico para quem escolher investir no Estado", disse, ressaltando o trabalho desenvolvido pelo Sesi e Senai e os investimentos programados pelas instituições para os próximos anos.
A opinião foi compartilhada pelo gestor da Seapa, Tiago Mendonça. "Temos um setor agropecuário extremamente pujante, mas que precisa caminhar junto com a indústria", disse ele, destacando a importância da Fieg nessa articulação e defesa do setor.
Na questão tributária, o presidente do CTA, Marduk Duarte, explicou que o colegiado, juntamente com o Conselho de Assuntos Tributários (Conat) da Fieg, vem coordenando ação junto à Secretaria de Estado da Economia para melhoria em questões acessórias, de olho em simplificar trâmites tributários em Goiás. O objetivo é melhorar a cobrança do ICMS, na falta de uma Reforma Tributária que de fato atenda aos anseios da sociedade, aprimorando o fluxo operacional do sistema. Para tanto, a ação está sendo articulada em parceria com o Conselho Regional de Contabilidade de Goiás (CRC-GO).
ESTUDO DAS CADEIAS PRODUTIVAS DE GOIÁS – A reunião do CTA foi marcada também pela apresentação de relatório sobre o Estudo das Cadeias Produtivas no Estado de Goiás, iniciativa liderada pela Fieg, com apoio do Sebrae e execução da Universidade Federal de Goiás (UFG). O professor pesquisador Cleyzer Cunha expôs os resultados alcançados até o momento, com finalização da primeira etapa de mapeamento dos sistemas produtivos.
O trabalho inclui completo levantamento do atual cenário das principais cadeias agroindustriais de Goiás, com dados secundários de emprego, preços, custos, exportações e importações, considerando quatro segmentos: insumos para a agropecuária, atividade agropecuária em si, agroindústria de processamento das matérias-primas agropecuárias e agrosserviços. O mapeamento abordou ainda o ambiente institucional e organizacional do setor.
Sobre o estudo, o vice-presidente da Fieg André Rocha, representante do setor sucroalcooleiro, destacou a importância de a indústria utilizar o resultado para agregar soluções aos processos produtivos. "É fundamental materializar essas oportunidades que estão no papel. Para isso, precisamos tornar o estudo factível, entendendo o que o empresário precisa para continuar investindo em Goiás, apontando motivos e soluções e diminuindo a ociosidade em diversos setores, talvez até com oportunidades que estejam fora do core business da indústria, de olho em intensificar a capacidade instalada", analisou.
A próxima etapa do trabalho consiste na identificação de oportunidades de negócios e investimentos e deve ser apresentada no mês de junho. A previsão é de que, até setembro/2022, o estudo liste sugestões de políticas, ações e metas de governança para incremento da agroindústria goiana.
MISSÃO DE BECHMARKING – Atento às oportunidades, o presidente do Conselho Temático do Agronegócio (CTA) da Fieg, Marduk Duarte, divulgou programação de visita institucional e técnica a Mato Grosso do Sul para conhecer o trabalho implementado no Estado no âmbito da silvicultura. A missão empresarial, agendada para julho, visitará os municípios de Três Lagoas e Eldorado, além da usina termoflorestal de Onça Pintada.
"Queremos conhecer de perto como a silvicultura pode agregar ao desenvolvimento econômico de uma região e trazer para Goiás essa experiência bem-sucedida. Na última década, o setor agregou 27% ao PIB de Mato Grosso do Sul", afirmou Marduk.
De acordo com o empresário, Goiás está ameaçado por um apagão florestal. "Estamos falando há muito tempo sobre essa crise no setor. Já estamos com falta de madeira, com expressiva alta de preços do insumo", disse, destacando que o problema é sério e que o pedido pela missão de benchmarking partiu da Seapa, reconhecendo o delicado momento da silvicultura em Goiás.
A reunião do CTA foi acompanhada pelo presidente do Sindicato dos Moinhos de Trigo da Região Centro Oeste (Sindtrigo), Sérgio Scodro, e pelo diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios no Estado de Goiás (Sindileite), Alfredo Correia.