Exportações mineiras de ovos dão salto de 112,2%
30/06/2021
Por: Diário do Comércio

Por Michelle Valverde
As exportações de ovos e derivados estão em alta. Apesar de o mercado interno ser o maior demandador do produto, os embarques têm sido uma importante oportunidade para ampliar a margem e minimizar parte dos custos de produção, que estão em patamares elevados devido à valorização dos grãos. Somente entre janeiro e maio, as exportações mineiras do produto cresceram 112,2% em receita. O movimento também é visto nos embarques nacionais, que ficaram 150,3% maiores quando se comparada à receita gerada até maio frente a igual período do ano anterior.
Segundo os dados da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), em Minas Gerais, as exportações de ovos e seus derivados cresceram 112,2% entre janeiro e maio, movimentando mais de US$ 1,5 milhão. Em volume, foram embarcadas 1,48 mil toneladas, avanço de 611,8% sobre as 209 toneladas exportadas em igual período de 2020.
O preço da tonelada valorizou no período. Enquanto nos primeiros cinco meses de 2020 a tonelada de ovos e seus derivados era comercializada a US$ 1.058,43, no mesmo intervalo de 2021 a cotação subiu para US$ 3.551,29, uma valorização de 235,5%.
Os últimos dados disponíveis sobre a produção mineira de ovos mostram que os custos de produção elevados têm impactado e houve redução do volume disponibilizado para o mercado.
Conforme a Pesquisa Trimestral do Abate de Animais, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção mineira de ovos somou 88,5 milhões de dúzias ao longo do primeiro trimestre, variação negativa de 1,8% frente a igual intervalo do ano passado. Minas é o segundo maior produtor do País, respondendo por 9% da produção de ovos e atrás apenas de São Paulo.
Custos desafiam
De acordo com o conselheiro-diretor da Associação dos Avicultores de Minas Gerais Avimig, Aulus Assumpção, a situação do produtor é bastante complicada, já que enfrentam aumento dos custos e dificuldades em repassar para o mercado final.
“O produtor continua com margem negativa e, mesmo fazendo esforços de mudança de custos de matéria-prima, ainda está no prejuízo. Ficou claro para o produtor que esta margem só será obtida com a redução dos custos, principalmente do milho e do farelo de soja. Na outra ponta, o consumidor não tem condições de arcar com aumentos que seriam necessários para cobrir os prejuízos. Será necessário uma redução do preço da matéria-prima e pequeno aumento dos valores dos ovos para que o produtor volte a ter margem”, explicou.
Ainda segundo Assumpção, o produtor já vem reduzindo, desde o último trimestre de 2020, o alojamento, colocando menos aves no mercado, atrasando o recebimento de pintos e a compra de frangas, na esperança de uma retomada econômica que permita a geração de empregos e consiga, assim, fazer com que o consumidor aumente seu ganho e permita o repasse de custo.
“Considerando a situação atual de redução do dólar e sabendo que grande parte da matéria-prima usada tem pressão da moeda norte-americana, entendemos que, no médio prazo, poderemos ver a redução dos custos acontecer”.
Embarques superam nível pré-pandemia
Assim como em Minas Gerais, no País, as exportações de ovos (in natura e processados) também estão positivas e totalizaram 5,108 mil toneladas entre janeiro e maio deste ano. O volume, segundo levantamento da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), é 143,4% superior ao realizado no mesmo período de 2020, quando foram embarcadas 2,099 mil toneladas.
Em receita, as vendas no ano chegaram a US$ 7,008 milhões, saldo 150,3% maior que o efetuado no mesmo período de 2020, com US$ 2,8 milhões. O presidente da ABPA, Ricardo Santin, explica que os embarques estão aquecidos e já superam o desempenho de antes da pandemia de Covid-19.
“As exportações de ovos, de janeiro a maio de 2021, apresentam grande desempenho de mais de 140% de aumento em volume. Estes níveis voltaram aos patamares de 2019 e se recuperam em relação ao mesmo período do ano passado".
Para Santin, os embarques têm sido interessantes para o equilíbrio da produção de ovos, que enfrenta um aumento de custos significativos e resultante da baixa oferta de soja e milho, o que fez com que a cotação dos grãos atingisse patamares recordes.
“As exportações confirmam o setor como um grande fornecedor de ovos do mundo. O Brasil está entre os dez maiores exportadores e produtores globais. Mas, mais do que isso, elas ajudam a nossa avicultura de postura a equilibrar um pouco o custo de produção. O aumento exagerado do milho e farelo de soja impactou severamente nas produtoras de ovos, e agora com a exportação consegue equilibrar, um pouco, capturando o efeito cambial. É um número muito positivo e esperamos que o setor, apesar de ter bases pequenas de exportação, comece cada vez mais a consolidar-se como parceiro dos nossos importadores na segurança alimentar daqueles países”, completou.
Alimento consolida espaço na mesa do brasileiro
Com um consumo per capita de 251 ovos ao ano no Brasil, volume que foi alcançado em 2020 e ficou 9,56% maior que em 2019, a tendência é de novo crescimento este ano. Além de ser um alimento saudável e com vários modos de preparo, o preço mais acessível que os das demais proteínas tem elevado a demanda pelo produto.
De acordo com o consultor de varejo e nutricionista Marco Quintarelli, o consumo de ovos aumentou por vários motivos, sendo um dos principais os preços mais acessíveis que os das carnes.
“O preço da carne bovina disparou e as famílias passaram a consumir mais ovos. A expectativa é que o consumo continue crescendo no País a cada ano. Além de ser uma opção para a substituição das carnes, o ovo é um alimento saudável e de fácil e variado preparo, o que também estimula o consumo”, explicou.
Outro fator que favorece o consumo são os investimentos da produção na diversificação dos ovos.
“O próprio mercado está investindo na diversificação dos ovos. Hoje, no varejo, o consumidor tem ovos de vários segmentos e categorias, orgânicos, com alto teor de ômega três, de galinhas criadas livres, entre outros. Isso é muito bom porque atende a vários segmentos de mercado, além de garantir o acesso das famílias de baixa renda a uma fonte rica em proteína”, destacou Quintarelli.
O conselheiro diretor da Avimig, Aulus Assumpção, explica que o consumo de ovos também tem sido estimulado pela percepção do consumidor de o ovo ser um alimento saudável e acessível a toda a população.
“O consumo de ovo abrange toda a população, tanto os jovens que necessitam de proteína, como os mais velhos que buscam as diversas vitaminas que o ovo contém. Por outro lado, é um produto com preço acessível, o que permite o acesso de toda a população”, disse Assumpção.