A indústria da Serra sente o impacto da escassez de uma matéria-prima importante para segmentos em que a região é referência. A baixa disponibilidade de aço, devido ao aquecimento de mercados internacionais e à parada de equipamentos no ano passado por causa da pandemia, faz com que as empresas metalmecânicas e moveleiras tenham aumento de custos e pedidos represados. O presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, revelou que, até abril, as usinas haviam reajustado o preço do aço, repassado aos distribuidores, em 35%.
De acordo com o vice-presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs), Ruben Antonio Bisi, a falta da matéria-prima atinge de forma ainda mais preocupante as empresas de pequeno e médio porte da Serra. Porque as de grande porte fazem programações de prazos maiores junto às usinas e, assim, são priorizadas por elas nas entregas. Mas o cenário aquecido para as siderúrgicas também se reflete no aumento brusco de preço. Em alguns tipos de aço, o custo cresceu até 200%.
— Achamos que vai ter muito desabastecimento e aumento de preços, em função da retomada da China e também por causa da injeção de US$ 1,8 trilhão na economia dos Estados Unidos (o que aumenta o consumo e consequentemente a busca pela matéria-prima) — aponta o vice-presidente do Simecs.
O problema do abastecimento, diz ele, atinge ainda outras matérias-primas, como alumínio e plástico. A indústria moveleira, cujo principal polo nacional fica em Bento Gonçalves, também sofre com a escassez de aço e outros insumos, como placas de MDF, MDP e da própria madeira. A condição já traz um impacto no preço para o consumidor final e, como os produtos sofreram aumentos expressivos, a tendência é que nos próximos meses isso se reflita na inflação.
O presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul, Rogério Francio, explica que o repasse de custos ao cliente final já começou, mas sem que isso aumente a rentabilidade das empresas:
—
Os aumentos para o mercado de uma maneira geral foram numa faixa entre
50% e 80%. Alguns produtos se repassou inclusive o aumento de 100%, mas
isso não significa que melhorou a lucratividade das empresas, porque
tivemos de assumir outros custos, como dissídio da categoria e aumento
da luz.
A
Metalúrgica Buzin buscou novos fornecedores de aço e, mesmo assim,
encontra dificuldade no fornecimento. Para driblar a dificuldade, a
empresa passou a reprocessar a matéria-prima. Além disso, normalmente, o
produto é encontrado em São Paulo e não mais no Sul. Com isso, aumentam
os prazos para entrega. Como consequência, o período médio que a
empresa caxiense demorava para fornecer ao comprador a encomenda saltou
de 10 dias para uma média de 20 dias.
https://gauchazh.clicrbs.com.br/pioneiro/economia/noticia/2021/05/escassez-de-aco-prejudica-producao-da-industria-da-serra-ckpd2itol002b01806dx6w9ek.html