A indústria gráfica brasileira enviou nova correspondência ao Ministério da Economia na semana passada, alertando para a forte inflação de custos no setor e a incapacidade das gráficas de repassar os sucessivos aumentos de preço dos diferentes tipos de papel, em um momento de condições de mercado ainda adversas. Para mitigar os impactos negativos da aceleração dos custos, que tem levado ao fechamento de empresas em ritmo “preocupante”, a indústria defende a redução do imposto de importação ou o corte de tributos localmente.
Há três meses, as gráficas já haviam pedido ao governo a redução temporária do imposto de cartões, usados principalmente em embalagens, por causa da escassez de oferta após a desorganização da cadeia de suprimentos, mas o pleito não foi atendido.
Em 2019, o Brasil contava com cerca de 18 mil gráficas em operação, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) Nacional. Com a crise desencadeada pela pandemia de covid-19, a estimativa é que entre 4 mil e 5 mil empresas fecharam as portas, ou mais de 25% do total de gráficas que estavam em operação há pouco mais de um ano. “É um concurso de resistência”, diz o presidente da entidade, Levi Ceregato.
Entre agosto e março, segundo levantamento do Valor, os preços de papéis de imprimir e escrever acumularam altas de até 37% no mercado doméstico e há novos reajustes anunciados pelos fabricantes instalados no país para maio, da ordem de 15%. Os cartões usados em embalagens, por sua vez, sobem até 30% desde o fim do ano passado e também passam por nova rodada de alta.
Os reajustes consecutivos dos papéis refletem principalmente a forte valorização da celulose — de cerca de 40% em dólares — e das aparas de papel, o câmbio desvalorizado e os insumos químicos mais caros. A entidade que representa os fabricantes de papéis, a Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), não comenta preços por compliance, mas aponta que, “devido à conjuntura mundial, com a crise causada pela pandemia e o aumento do dólar, todos os setores estão sofrendo pressão de custos”.
“Logística, insumos químicos importados e aparas, por exemplo, demonstraram aumento no ultimo ano. Assim, por meio do repasse de aumentos de cada elo da cadeia, o produto final, como a embalagem de papel ou qualquer tipo de papel, acaba impactado”, informou, em nota.
A entidade informa ainda que, enquanto todo o setor de embalagens registrou aumento de preços da ordem de 29,1% entre fevereiro de 2020 e o mesmo mês de 2021, o papel cartão subiu 9%. A perspectiva para os próximos meses é de regularização da cadeia de cartões, com oferta superior à demanda no segundo semestre.
Diante disso, segue a Ibá, uma eventual redução da alíquota de importação não teria efeito imediato, por causa dos prazos de análise do pedido e de operacionalização das importações, e “provocaria o risco de entrar em vigor justamente no momento da inversão do quadro entre oferta e demanda, desequilibrando toda a cadeia produtiva nacional do papel, gráfica e embalagem”.
Conforme Ceregato, o setor gráfico vê a elevação de custos em curso “com grande preocupação”. “A maior parte da indústria é formada por pequenas e médias empresas. Mas as grandes também estão enfrentando dificuldades”, afirma. Segundo uma fonte de mercado, o fato de a indústria gráfica ser muito pulverizada no país reduz o poder de negociação e contribui para a elevada concorrência nesse mercado, que também limita a capacidade de recomposição de margens.
No ano passado, a produção física da indústria gráfica brasileira recuou 17,3%, o maior tombo da história, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Fonte: Valor