Os efeitos econômicos do início da pandemia da Covid-19 continuam a produzir reações em cadeia em diversos setores do mercado brasileiro. Um setor que foi atingido em cheio no começo das infecções pelo novo coronavírus foi o têxtil, que enfrentou redução drástica do consumo, demissões e falências. Mas se os primeiros impactos da crise estão sendo superados, outros desafios estão surgindo. Um deles é a falta de matéria-prima e insumos.
“O fornecimento de matérias-primas e insumos importados vem enfrentando problemas de abastecimento e logística, em especial no valor e custos de contêineres”, informou através de nota a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
Segundo a entidade, as empresas do setor ficaram com as atividades paralisadas por um período entre 90 e 100 dias. Dessa forma, a retomada depois dessa prolongada interrupção, demanda tempo para que todos os elos da rede de produção e suprimentos voltem a funcionar de maneira sincronizada.
Com o início da pandemia, o lockdown e a queda das vendas, a indústria têxtil brasileira encolheu, com corte nos investimentos, na produção e no quadro de colaboradores. Segundo o assessor de importações Claus Malamud, a retomada das operações na China, que aconteceram antes do que no Brasil, impulsionou a compra de matéria-prima produzida no País, como o algodão in natura.
“Na hora que o Brasil começou a se recuperar, além da produção reduzida, notou-se que os insumos haviam sido vendidos. Isso fez aumentar demais o preço desses insumos”, explica o assessor. O cenário que se formou meses depois do início da pandemia foi o de retomada da demanda e da produção, mas falta insumos como os fios naturais produzidos pela China.
“Até mesmo na China existe esse problema, o mundo inteiro está comprando os produtos chineses. As fábricas não estão dando conta. Um pedido pode demorar até 120 dias para chegar ao Brasil”, afirma Malamud.
Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas Gerais, Rogério Vasconcellos, devido à falta de insumos, as confecções mineiras estão aceitando pedidos somente para janeiro ou fevereiro de 2021. “Há uma semana, essas mesmas empresas não estavam nem aceitando pedidos”, ressalta o presidente do sindicato.
Vasconcellos fez questão de frisar que a falta de insumos não é causada por um aumento no consumo. “O consumo não está crescendo, ele só está voltando. Hoje estimamos que está cerca de 70% do que era antes”, observa. Segundo o empresário, o que está acontecendo é a retomada do consumo em um mercado onde a oferta ainda está se readaptando.
Mercado – O presidente do Sindivest ainda detalhou o impacto da pandemia no mercado têxtil mineiro. Segundo ele, Belo Horizonte foi a capital que mais sofreu com perdas causadas pela queda nos investimentos e consumo. “O mercado de BH sofreu mais do que os outros porque a cidade passou mais tempo fechada do que a maioria das capitais no Brasil”, argumenta.
Porém, a crise não atingiu todas vertentes do setor têxtil de Minas Gerais igualmente. Algumas parcelas do mercado registraram aumento nas vendas durante os primeiros meses da pandemia, como as empresas que produzem peças íntimas e pijamas.
“Acredito que neste final de ano, haverá um crescimento para quem produz moda praia. As pessoas não podem viajar para fora, então o turismo deve se concentrar nas praias brasileiras neste verão”, aposta Rogério Vasconcellos.
A Abit admitiu que houve aumento nos preços de insumos. “Em relação aos preços, o segmento têxtil tem mais de 70% dos custos atrelados a moedas estrangeiras. Insumos como fibras naturais, sintéticas e artificiais, corantes, anilinas e embalagens, produzidos no Brasil ou importados, têm seus preços baseados no mercado mundial e na cotação das principais moedas internacionais. Com a desvalorização do real, o reflexo nos custos dos fios, tecidos e malhas é imediato”, alerta a entidade.
Porém, a associação avalia que, apesar do aumento nos custos com insumos, não se espera que os preços no varejo alcancem patamares exorbitantes. “Isso se deve ao fato de o setor agregar muito valor aos insumos ao longo do processo de fabricação e ser um mercado de forte concorrência, além de existirem alternativas diversas de produtos à disposição do consumidor”, esclarece.
A Abit espera que a situação se regularize nos próximos 90 dias. “É preciso registrar que as empresas estão voltando às suas atividades simultaneamente, o que provoca uma demanda inicial acima da capacidade imediata de resposta da produção. Acreditamos que, ao longo dos próximos três meses, estaremos com oferta e demanda ajustadas”, prevê.