Setor vê na demanda da retomada um empecilho, já que boa parte das empresas estão procurando por insumos ao mesmo tempo; nesse cenário, dólar alto torna ainda mais difícil a busca por matéria-prima
Marisol Malhasinformou que suspendeu as vendas de todas as linhas de produtos até segunda ordem, assim como a fabricante de elásticosZanotti.A situação remete a dificuldades ainda maiores além daquelas que o setor de vestuário foi exposto, aumentando o fardo para a recuperação de receitas, uma vez que o desabastecimento na cadeia torna os custos ainda mais altos do que já vinham por conta da valorização dodólar."A cadeia de algodão aumentou preço, as fiações não produziram fios e a situação desandou", disse uma fonte."O impacto é no atraso da coleção vendida, perda de venda, prejuízo ao franqueado e risco de ter seu produto trocado nas multimarcas", acrescentou.
Leia TambémShopstreaming: varejo aposta em formato de 'televendas' adaptado para o onlineSegundo ele, como também a indústria chinesa de tecidos está com sua produção comprometida, para agilizar a importação, alguns fabricantes estão trazendo mercadorias de avião, o que tem um custo mais elevado do que o transporte marítimo.
O presidente daAssociação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Valente Pimentel, vê tensão na indústria, uma vez que os preços sobem e os produtos faltam pelo fato de que todos estão buscando produtos ao mesmo tempo. Mas considera que este é um reflexo natural e um problema conjuntural ao fato de que boa parte da indústria brasileira esteve parada por entre 90 a 100 dias."Não é possível religar a economia como uma lâmpada de abajur", diz ele, lembrando que antes de ter sido decretada a pandemia do
novo coronavírusnão havia desabastecimento."Entendemos que será necessário uns 90 dias para regularizar fluxo da cadeia de produção e distribuição", previu. Pimentel acrescenta ainda que a indústria têxtil e de confecção é de concorrência perfeita, o que regula preços e segura historicamente a inflação do ramo. Ainda assim, os preços têm sido influenciados por um fator que vai além da produção que ficou parada: o problema está na desvalorização do real.
Ele diz que 70% da indústria têxtil está atrelada a moedas estrangeiras."O algodão é dolarizado, as máquinas são dolarizadas. Mais de 70% das máquinas são importadas. Produtos químicos da produção também são. Isso causa um reequilíbrio dos preços relativos, que mais a frente vão se reacomodar", afirma.
Pimentel diz ainda que o aumento surpreendente da demanda interna, motivada pelo auxílio emergencial, também contribuiu para o desabastecimento pontual."No entanto, quando se observa um país que vai terminar o ano mais pobre e uma alta taxa de desemprego, a tendência é de um reequilíbrio não só das atividades produtivas, mas também da demanda", afirma.
NegociaçãoSão Paulojá sentem os efeitos na pele."O setor têxtil vem sentindo várias intempéries relacionadas à alta do dólar e falta de insumos, com tendência a piorar ao longo do ano se a equipe econômica não providenciar um apoio mais incisivo às áreas produtivas e geradoras de emprego", afirmou.
Fonte:
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,empresas-de-vestuario-suspendem-producao-por-falta-de-materia-prima,70003442613