As atividades comerciais vão, aos poucos, retomando seu ritmo. A flexibilização não é igual em todas as regiões do Brasil, visto que a pandemia de covid-19 segue seu curso, e já ceifou a vida de mais de 100 mil pessoas. Todavia, alguns setores, como têxtil e confecção, apesar dos números negativos do primeiro semestre, já dão sinais de recuperação gradual. A Semana Brasil, que acontece de 03 a 13 de setembro, com promoções e ofertas no varejo; e o mês do Natal, em dezembro, são esperados com grande expectativa para mitigar os prejuízos acumulados esse ano.
O Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), que acompanha mensalmente a evolução do comércio, tem mostrado uma recuperação paulatina do varejo geral. “O setor têxtil e vestuário foi extremamente impactado pela pandemia. Na média (entre 1 de março e 1 de agosto), comparando com as semanas pré-quarentena, apresentamos uma queda de - 55,9%, mas na última semana, de 02 a 08 de agosto, estamos com uma queda de -23,1%. Ou seja, está havendo uma recuperação, no entanto, muito desta recuperação está acontecendo no comércio popular, mais influenciado pelo auxílio emergencial de R$ 600,00, que está injetando na economia mais de R$ 50 bilhões por mês, e que deve permanecer nos próximos meses. Se não tivermos surpresas negativas até o final do ano, talvez que as vendas de Natal sejam melhores”, diz Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).
Balanço
Durante entrevista coletiva on-line, Pimentel reconheceu que a trajetória de recuperação será lenta e poderá se estender até 2021, para o setor se restabelecer do choque do coronavírus. “Olhando para frente, vemos que o setor têxtil/confecção será um dos pilares da retomada, mas a geração de postos de trabalho vai se dar de forma lenta. Não esperamos deterioração mais profunda na perda de empregos, diante das medidas que já foram adotadas pelo governo. Acredito que teremos uma Semana Brasil mais incrementada do que foi a do ano passado e o setor está engajado nesse movimento junto com o varejo e outras associações, para garantir os protocolos de segurança nesta data, a fim de promover mais as atividades comerciais e industriais”.
De acordo com os números apresentados pela Abit, o setor têxtil e confecção faturou R$185,7 bilhões em 2019. De janeiro a junho de 2020 a produção têxtil caiu – 22% em relação ao mesmo período e 2019; o vestuário teve queda de – 36, 6% e as vendas no varejo – 38,6%. As importações caíram – 18,0%, as exportações – 5,1% e o desemprego atingiu 79.567 trabalhadores do setor. “Isso reflete toda uma perda de negócios, em razão da pandemia, que se iniciou no comércio e interrompeu também as atividades fabris. Apesar de já estarmos melhorando, os resultados são muito negativos”, comenta.
Para 2021, o presidente da Abit projeta aumento na produção têxtil de 8,21%, crescimento das vendas internas de 6,8%, importações 5,2%, exportação 6,5% e criação de 17.000 vagas de empego formal. Ele estima que por conta da crise da pandemia, o setor deve perder de 10% a 15% das unidades fabris, sendo a maioria, na indústria na confecção.
Crédito
Fernando Pimentel disse que o crédito continua sendo a principal dificuldade para o setor têxtil e de confecção. “O crédito não fluiu, principalmente para as pequenas e médias empresas. Houve uma corrida em busca dos recursos ofertados pelas linhas especiais, criadas pelo Governo Federal, para o enfretamento da crise, mas só as grandes companhias conseguiram acesso”, diz. O orçamento inicial do programa foi de RS 15, 9 bilhões, mas devido à grande procura, os recursos se esgotaram rapidamente. Diante da grita geral dos empresários que não foram contemplados com o crédito, foi anunciada (a partir de 15 de agosto), a nova fase com ampliação da linha para R$ 12 bilhões. O Pronampe é destinado às microempresas (ME) e às empresas de pequeno porte (EPP) que tiveram receita bruta total no exercício de 2019 de até R$ 4,850 milhões. Essa linha especial é operada pelo Fundo Garantidor de Operações Financeiras do Banco do Brasil, que dá garantias ao banco, tirando o risco do tomador do crédito.
Além do Pronampe, há outro programa especial, o BNDES FGI, que tem o objetivo de facilitar a obtenção de crédito no âmbito do Fundo Garantidor para Investimentos, por empresas com faturamento (em 2019) de R$ 360 mil até R$ 300 milhões, preferencialmente destinada a capital de giro. Pimentel, entretanto, lembra que a MP 975, que estabeleceu a linha de crédito, embora já tenha sido aprovada pelo Senado, ainda aguarda sanção do Presidente da República. “Em suma, o crédito continua sendo o calcanhar de Aquiles para o setor produtivo. Não tenho como dizer quanto do volume liberado até agora foi destinado às micro e pequenas empresas do nosso setor. Vamos fazer uma nova enquete para ouvir dos empresários sobre o que está acontecendo nessa questão do crédito, pois ele é fundamental para a retomada”.
Fernando Pimentel diz ainda que o grande desafio da indústria para a retomada será encurtar os elos da cadeia, tornar a produção mais eficiente, conseguir maior integração entre varejo e indústria, sendo mais assertiva no desenvolvimento das coleções, para não gerar desperdícios. “Temos que cumprir a agenda de sustentabilidade e inovação, para que o consumidor possa se sentir satisfeito com a compra de um produto feito no Brasil”.
Fonte: Abit