Uma das formulações, que substitui insumo importado, foi desenvolvida em parceria com as indústrias Klabin e Apoteka. Espessante extraído da madeira gerou pedido de patente por ser inovação mundial
Pesquisa da rede de Institutos SENAI de Inovação vai ajudar o Brasil a elevar a produção de álcool-gel 70%, antisséptico usado na prevenção à covid-19. Pesquisadores dos institutos de Biomassa, localizado em Três Lagoas (MS); de Biossintéticos e Fibras, no Rio de Janeiro; e de Engenharia de Polímeros, em São Leopoldo (RS), desenvolveram insumos substitutos ao carbopol, espessante mais comum na formulação do produto. A matéria-prima importada, além de escassa no país, está com preços elevados devido à alta demanda.
A rede do SENAI propôs novas formulações com diferentes espessantes, em especial os de origem celulósica, como hidroxietilcelulose (HEC) e hidroxipropilmetilcelulose (HPMC). Há também possibilidade de uso de insumos de origem natural, como argilas e gomas. Até agora cinco tipos de formulações já foram desenvolvidas e testadas com sucesso. Outras matérias-primas sintéticas alternativas estão em análise, como copolímeros acrílicos e poliacrilamidas.
“A crise da saúde pública causada pela covid-19 tornou indiscutível a relevância de ciência, tecnologia e inovação nas respostas que a sociedade brasileira precisa neste momento”, avalia o diretor-geral do SENAI, Rafael Lucchesi. “A rede de 27 Institutos SENAI de Inovação, que é a maior infraestrutura de apoio à capacidade inovativa da indústria brasileira, tem dado a sua contribuição, ao apresentar soluções que ajudam o país a enfrentar esse grave problema”.
PATENTE – Uma das formulações foi desenvolvida em parceria com pesquisadores do Centro de Tecnologia da Klabin e da indústria de cosméticos Apoteka. O espessante alternativo é feito a partir da celulose microfibrilada (MFC), extraído da madeira. O primeiro volume, de 60 quilos, já está em fase de testes e adaptações para que possa ser utilizado. O produto está em processo de validação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas já possui laudos técnicos que garantem a sua ação antibactericida. Além disso, a MFC utilizada é uma nanocelulose que garante hidratação para a pele, evitando o ressecamento pelo uso contínuo do produto. Após as aprovações, a expectativa é que o produto entre rapidamente em produção para atender às demandas de mercado.
“Buscamos soluções que tenham custo relativamente barato e seguras para uso tópico. Validamos também formulações alternativas, que disponibilizamos a potenciais produtores do país, o que vai permitir a produção em diferentes regiões, usando matérias-primas locais”, explica o diretor do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, Paulo Coutinho. “O projeto em parceria com a Klabin e a empresa Apoteka, por exemplo, gerou um pedido de patente, porque é sinônimo de inovação totalmente ‘made in Brasil’”, relata.
Ex-alunos do curso de Engenharia Química da Faculdade SENAI CETIQT também participaram do grupo de pesquisa. “Temos de unir forças para atender a demanda de álcool-gel do setor de saúde e da população em geral. Fico feliz em fazer parte da rede de inovação que está buscando desenvolver estratégias para testar formulações alternativas para o produto. A minha trajetória acadêmica foi de grande importância para adquirir conhecimentos, com foco nas demandas reais do mercado”, conta Brenda Monteiro, ex-aluna do curso, que atua como analista no Instituto de Inovação, realizando estudos de inteligência competitiva.
FORNECEDORES – Além de avaliar as formulações em escala laboratorial, os pesquisadores fazem a validação e escalonamento em 300 litros, assim como testes microbiológicos. Os estudos envolvem ainda a prospecção de fornecedores nacionais de potenciais matérias-primas. Selecionado pelo Edital de Inovação para a Indústria, na categoria Missão contra a covid-19, o projeto possui como empresa parceira a Adecoagro Vale do Ivinhema S.A., de Ivinhema (MS), que produz álcool etílico, componente essencial nas formulações de álcool em gel 70%.
No final do projeto, que ainda está em desenvolvimento, serão disponibilizadas fichas técnicas de todas as formulações testadas e validadas para produção. Entre as orientações estarão especificações de equipamentos, acessórios, boas práticas de fabricação, segurança de produção e manuseio das matérias-primas e produtos finais.
Estarão disponíveis também notas técnicas e de esclarecimento da Anvisa e demais órgãos reguladores para dar o máximo de apoio aos fabricantes nacionais.
Os 27 Institutos SENAI de Inovação, distribuídos pelo país, possuem pesquisadores qualificados, equipamentos e infraestrutura de vanguarda para desenvolvimento de produtos e processos inovadores. Desde que a rede foi criada, em 2013, mais de R$ 1 bilhão foram aplicados em 1.086 projetos concluídos ou em execução. A estrutura conta com mais de 700 pesquisadores, sendo que cerca de 44% possuem mestrado ou doutorado. Atualmente, 15 centros são unidades Embrapii, e têm verba diferenciada para financiamento de projetos estratégicos de pesquisa e inovação.
O SENAI pôs sua infraestrutura a serviço do combate à pandemia de coronavírus em quatro frentes: 1) detecção e diagnóstico, por meio do apoio à maior produção de testes para detecção do vírus; 2) prevenção, com ajuda à fabricação de equipamentos de proteção individual (EPI); 3) tratamento de doentes, ao trabalhar na manutenção de respiradores mecânicos parados e 4) apoio à fabricação e desenvolvimento de novos equipamentos.
Fonte: Agência CNI de Notícias