Vários municípios brasileiros já começaram a permitir o funcionamento de lojas e shopping centers, que deverão seguir critérios pré-estabelecidos pelos governos locais, tais como disponibilizar álcool em gel 70% para funcionários e clientes, monitorar e controlar o fluxo nos estabelecimentos, adotar o uso de máscaras, entre outros protocolos. É uma notícia alentadora para milhares de lojistas de vestuário em todo o país, que vêm acumulando prejuízos por conta da paralisação de mais de 70 dias, causada pela pandemia de covid-19.
As perspectivas do varejo de vestuário, após a abertura das lojas, foi o tema da videoconferência realizada no dia 4 de maio pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, que contou com Glauco Humai, presidente da Abrasce – Associação brasileira de Shoppings Centers; Edmundo Lima, presidente executivo da Abvetex e Gabriel Zandomênico, CEO da Oficina Reserva, especializada em moda masculina. Embora aliviados com a flexibilização, os executivos se mostraram cautelosos quanto ao crescimento imediato das vendas nas próximas semanas, até porque o funcionamento terá horário reduzido e a circulação de pessoas em praças de alimentação, salas de cinemas, teatros, e outras atrações oferecidas pelos shoppings – que aumentam o movimento de público – continua vetada, devido à quarentena que está vigorado oficialmente no país.
Impulso na engrenagem
Fernando Pimentel, presidente da Abit, disse que a pandemia já provocou enorme perda de vidas e que a paralisação – iniciada no país entre 18 e 20 de março, trouxe destruição de negócios e empregos. Porém, reconheceu que as medidas restritivas foram necessárias para conter o alastramento da doença. “Estamos vivemos uma situação dramática de saúde, social e econômica. Todavia, diversas cidades brasileiras começaram a flexibilizar as atividades comerciais, e mais recentemente, o estado de São Paulo bem como a capital paulista iniciaram esse movimento. São Paulo representa algo em torno de 25% do consumo de confeccionados no País. O Brasil tem cerca de 150 mil pontos de venda de vestuário e confeccionados (artigos de cama, mesa, banho, cortinas, etc.), dos quais 34 mil estão localizados no estado de São Paulo e cerca de 10 mil, na cidade de São Paulo. Na medida que esse comércio volta, começa-se a puxar a engrenagem da produção para chegar até à distribuição”, diz o dirigente. Segundo dados do setor, o varejo de vestuário no Brasil movimenta por ano cerca de R$ 177 bilhões.
Temperatura dos shoppings
Glauco Humai, presidente da Abrasce, associação que representa 577 shoppings no país, ou seja, os empreendimentos que alugam espaços para milhares de lojistas, disse que o setor foi o mais afetado durante a pandemia, cujas perdas já passam de R$ 35 bilhões. “Foi muito traumático o fechamento dos 577 shoppings do Brasil simultaneamente. Foi como parar um transatlântico em movimento de forma abrupta. Isso nos fez repensar nossos processos e atividades”. O executivo reconheceu que o período de fechamento foi importante para preservar a saúde, e o setor aproveitou esse tempo para avaliar como seria a estratégia de abertura. “Já estamos com 75 dias de paralisação e praticamente 60% dos shoppings estão fechados no Brasil, enquanto a média na Europa (onde a covid-19 também se alastrou) o fechamento ficou em torno de 40 a 50 dias”. Humai conta que a Abrasce buscou elaborar um protocolo baseado em ações que foram feitas na Europa, Ásia, EUA e especialmente na Alemanha, que é referência em segurança sanitária. “Contratamos profissionais de saúde e desenvolvemos junto com o Hospital Sírio Libanês um protocolo de operação para que pudéssemos retomar com segurança as nossas atividades. Além disso, fizemos grandes investimentos para o fluxo de caixa dos lojistas que ultrapassam R$ 3 bilhões em isenção de aluguel, adiamento do pagamento de taxas e absorção de despesas e de custos, a fim de que as lojas fossem menos impactadas”. Segundo Humai, hoje estão abertos 248 shoppings em 111 das 222 cidades brasileiras que possuem estes estabelecimentos. Falando especificamente de São Paulo, epicentro da doença, com maior número de vítimas fatais e onde as medidas de restrição são mais severas, o presidente da Abrasce explicou que o movimento de reabertura começou a partir do dia 1 de junho. “No estado de São Paulo, dos 182 shoppings existentes, 62 já estão abertos em 34 cidades”.
Em Campinas, por exemplo, segunda maior região metropolitana do estado de São Paulo, o protocolo determinou que os shoppings centers poderão funcionar das 16h às 20h, com 20% da capacidade, não incluindo praças de alimentação, cinemas, teatros, academias, salões de beleza e serviços de valet.
Desafio do varejo
Edmundo Lima, presidente executivo da Abvetex, que representa o varejo de grande superfície, um conjunto de 9 mil pontos de venda que responde pela distribuição de 20% a 22% do vestuário no Brasil, disse que 100% das redes varejistas, que empregam aproximadamente 430 mil pessoas, estão fechadas. A operação administrativa está sendo realizada em home-office, enquanto parte das vendas são feitas por meio das redes sociais e sites das próprias marcas. Algumas lojas também implantaram o sistema drive thru para atender os clientes sem a necessidade de que eles saiam do carro. Na opinião de Edumundo Lima, o consumidor está assustado com a pandemia e procurando manter o isolamento social. Por isso, nesse momento, a preocupação dos lojistas deve ser com a segurança e a saúde dos colaboradores e dos clientes que por ventura venham às lojas. “Não há dúvida de que viveremos uma nova realidade econômica, com drástica redução da renda e do emprego. Nesse gradual movimento de reabertura, vejo que o momento é de cautela, pois o consumidor está amedrontado e com mais consciência sobre seus gastos”.
Tanto Glauco Humai quanto Edmundo Lima observam que nas lojas já abertas, o fluxo de pessoas, devido aos protocolos de higienização e segurança – que incluem veto aos provadores de roupas – está reduzido e as vendas, dependendo da região do Brasil, estão entre 35% e 40% do volume normal. Na região Sul, onde a flexibilização começou primeiro – ainda no mês de maio, o fluxo foi positivo, chegando o movimento das vendas a 60%. “Nesse momento, o objetivo do lojista de shopping é resgatar a confiança do consumidor e não fazer ações que estimulem aglomerações dentro das lojas”, recomenda Humai. Já Edmundo Lima diz que o comércio de rua está tendo um fluxo maior de compradores do que no shopping, mas o volume de vendas tem sido abaixo das expectativas, o que demonstra que a retomada do consumo vai ser lenta e gradual.
Omnichannel fortalecido
Gabriel Zandomênico, CEO da Oficina Reserva, cuja marca de moda masculina opera tanto em loja de shopping, loja de rua e também e-commerce, disse que é um momento difícil para fazer projeções, pois a pandemia não acabou e o Brasil ainda vive o pico da doença. Além das ações sociais e motivadores que a Reserva fez, como a doação de máscaras de proteção, Gabriel disse que a marca tem tido boas respostas durante a paralisação, graças à sua plataforma on-line. “Há algum tempo adotamos o modelo Omnichannel, integrando nossas lojas físicas com o e-commerce, e isso nos deu agilidade para atender nossos consumidores. Muitos dos nossos clientes migraram para as compras on-line durante a quarentena, motivados por ações que lançamos, sempre voltadas ao consumo consciente e sustentável. Agora, com a possibilidade de abertura das lojas físicas, vamos investir na comunicação e divulgação dos protocolos de segurança dentro dos nossos estabelecimentos”.
Datas comemorativas como Dia dos Namorados (12 de junho), Dia dos Pais (9 de agosto) e Semana Brasil (Black Friday Verde-Amarela, em setembro), estão no radar dos lojistas que também esperam impulsionar as vendas das roupas de inverno neste período. “Vamos fazer de tudo para apoiar a retomada responsável dos negócios e atender bem nossos consumidores”, finaliza Glauco Humai.
Fonte:
http://www.textilia.net/materias/ler/moda/moda-vestuario--mercado/varejo_discute_perspectivas_com_a_reabertura_dos_shoppings_centers