Pesquisa realizada pelo IEMI Inteligência de Mercado sobre comportamento do consumidor nas próximas semanas, indicam que 67% não pretendem comparar nada, independente da crise gerada pela pandemia de covid-19. Porém, 14% responderam que sim, vão continuar comprando artigos de moda; 13% apontaram roupas e calçados e 6% apenas calçados (tênis em grande maioria). Os dados foram apresentados durante a videoconferência “O mercado de moda no Brasil: impactos do covid 19 no consumo, perspectivas e ações para retomada”. Participaram do webinar, o diretor de negócios da Santista Jeanswear, Newton Coelho; o economista e diretor do IEMI, Marcelo Prado, e Sueli Pereira, gerente de comunicação e moda da Santista Jeanswear, que coordenou a apresentação.
Marcelo Prado reconheceu o incremento do e-commerce durante a pandemia, mas afirma que as vendas online no Brasil não compensaram a queda do varejo físico, que está paralisado há quase três meses, por conta da quarentena. Segundo ele, ao questionar se os entrevistados estariam dispostos a retomar as compras após o fim do bloqueio, 29% disseram que pretendem comprar roupas e caçados, “mas de maneira mais comedida, buscando economizar ao máximo”; 19% informaram que passarão a comprar mais pela internet e 40% responderam que “farão as compras da forma que sempre fizeram”, por meio de canais de vendas tradicionais.
Um ponto interessante da pesquisa apresentado pelo IEMI foi a motivação para as compras durante a pandemia. Dos que responderam favoravelmente ao consumo, 37% disseram que foram atraídos por descontos nos preços dos produtos; 26% pelo frete grátis, 13% pelo prazo de entrega e 12% por cupons de desconto das lojas, entre outras opções. Os canais utilizados para as compras online foram o Whatsapp com 38% e Instagram, 37%, além dos sites das lojas.
Fazendo um recorte na pesquisa de consumo de vestuário no Brasil, o IEMI mostra que 51% do consumo com roupas vêm das classes A e B contra 49% das classes mais populares, que representam 76% da população brasileira. Ente os itens mais consumidos, o jeanswaer se destaca, representando 11% das vendas do varejo de moda nacional.
Projeções para 2020
Mas, a pesquisa do IEMI, embora traga respostas alentadoras no que se refere ao comportamento de compra do brasileiro, também aponta um forte freio no consumo e na produção de vestuário em 2020, por causa da pandemia. Segundo Marcelo Prado, ao analisar as projeções da produção de vestuário no Brasil, partindo do mesmo cenário do varejo, a curva de desempenho mostra evolução no formato “U”, com recuperação lenta que irá perdurar ao longo de todo ano, mesmo após o fim da quarentena. “No acumulado de 2020, o cenário mais provável é de queda de 21,1% no volume de peças, com variação de -18% a -22,6%, considerando o melhor e o pior cenário”, explica o economista Marcelo Prado, acrescentando: “embora o cenário seja incerto em relação ao fim das restrições ao varejo de moda e seu impacto no mercado em 2020, com base nos dados apurados até março e tendo como premissa os meses de abril e maio – praticamente inteiros com lojas físicas fechadas em grandes centros consumidores –, haverá perdas de -16,1% nas vendas em volume em 2020, frente ao ano anterior, no cenário mais provável, oscilando entre -13,7% e – 18,4%”.
Com relação aos desafios do setor de vestuário para a reabertura das lojas físicas, Prado sugere uma série de medidas (veja slide na galeria), entre as quais a oferta qualificada e diversificada de produtos para a estação (no caso, o inverno brasileiro que vai de 21 de junho a 23 de setembro). Ele também aconselha fabricantes e gestores de marcas a reverem sua relação com o varejo, especialmente, as multimarcas, criando estratégias de fomento das vendas online.
De fato, a pesquisa apontou que as empresas que se saíram melhor no e-commerce foram justamente as marcas já consolidadas neste canal, bem como as grandes cadeias de moda. Já para as lojas físicas, a lição que fica desta paralisação do comércio é que elas precisam se engajar mais nas plataformas digitais. “ Sofrendo perdas significativas por conta da crise, os lojistas de multimarcas, cuja maioria (99%) ainda é analógica, precisará investir no digital para se integrar e se aproximar mais do seu cliente. O e-commerce está no Brasil há mais de 10 anos, entretanto, dos R$ 231 bilhões movimentados pelo varejo de vestuário em 2019, ele representou apenas 1,7%, aproximadamente, R$ 4 bilhões”, diz Marcelo Prado.
Jeanswear
A segunda parte da apresentação do IEMI, dedicada ao mercado de jeanswear brasileiro, trouxe dados compilados em 2019, mostrando que este segmento reúne 5,6 unidades produtoras, gera 301 mil empregos diretos, com receita anual de R$ 14,4 bilhões. Foram produzidas 341 milhões de peças (entre calças, jaquetas, etc.) sendo 578 mil destinadas à exportação, ou seja, apenas 0,2% do total da produção. “Entre 2014 e 2019, a produção de jeanswear sofreu queda de 6% em número de peças e alta de 31% em valores”, constata a pesquisa, revelando que o setor tem apostado mais em artigos valor agregado do que em volumes. Ainda segundo o IEMI, Pernambuco é hoje o maior produtor nacional com 17% do total de peças confeccionadas em jeans no Brasil.
Milton Coelho, diretor da Santista, empresa brasileira criada em 1929, e uma das principais produtoras do autêntico denim e tecidos para roupas profissionais, disse que a companhia está na fase de revisão dos planos para o pós-pandemia. “Tomamos todos os cuidados com o pessoal e seguimos rigorosamente os protocolos dentro da fábrica. Fornecemos kits de tecidos para a produção de máscaras para as famílias dos nossos funcionários, bem como ajudamos entidades assistenciais com doações. Incrementamos também nossas ferramentas digitais e com a retomada, vejo oportunidades para o produto feito no Brasil e para especialidades. A Santista tem oferta de tecidos funcionais que deverão ter boa procura no mercado profissional. Além disso, temos um denim de primeira qualidade e nossa missão será engajar o consumidor nessa valorização do produto nacional para manutenção das nossas empesas e dos empregos”. Sueli Pereira, gerente de comunicação e moda, acrescenta: “Nesse momento estamos focados nas vendas. Trocamos muitas informações com o mercado e isso tem nos ajudado a direcionar as estratégias. Vamos continuar trabalhando com o Denim City, um projeto que visa incrementar o setor de jeanswear no país, e apoiar as pequenas confecções e o pequeno varejo, compartilhando conhecimento. Acho muito importante, a partir desse momento, o trabalho colaborativo para o bem-estar das empresas brasileiras”.
Marcelo Prado, do IEMI, por sua vez, comenta: “Com a queda do consumo mundial, vai sobrar estoques de tecidos e de vestuário nos próximos meses. Porém, no Brasil, com a elevação do dólar, as importações deverão cair 50%. Serão 500 milhões de peças que deixarão de concorrer no mercado interno, dando espaço para a produção nacional. No momento, o comércio já começa a reabrir em regiões como Centro-Oeste, Sul e em Minas Gerais, onde o impacto da pandemia foi menor. Aconselho os produtores, que focavam majoritariamente nos mercados de Rio e São Paulo, onde a situação continua crítica e as lojas permanecem fechadas, a olharem oportunidades fora desses centros. Temos que lembrar que a tempestade é para todos, mas o barco não é igual para todo mundo”.
Fonte: http://www.textilia.net/materias/ler/moda/moda-vestuario--mercado/industria_da_moda_se_prepara_para_retomada_e_jeanswear_pode_ser_o_carrochefe