JOSÉ
PASTORE
Professor da Universidade de São Paulo e membro da Academia Paulista de
Letras. É presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da
Fecomércio-SP:
Acordo
União Europeia-Mercosul busca alavancar substancialmente as exportações entre
os dois blocos.
A
estimulação de novos fluxos de comércio deve induzir a geração de novos postos
de trabalho. Hoje, as exportações sustentam cerca de 850 mil empregos na União
Europeia e 440 mil no Brasil. Isso tem chance de aumentar bastante. No caso do
Brasil, a liberalização das exportações forçará as empresas a ganhar
produtividade e competitividade. Mas, é claro, nada disso é automático. Para
chegar lá, será necessário reduzir drasticamente o custo Brasil e eliminar
inúmeros protecionismos que conspiram contra os ganhos de eficiência na
produção da indústria, do comércio e dos serviços. Trata-se de um caminho longo
e cheio de desafios.
Além dos
seus impactos macroeconômicos, o Acordo UE-Mercosul tem o potencial para
atrelar o Brasil a novo contexto geopolítico, Há vários meses, os países
europeus vêm se movimentando para fazer acertos comerciais com a China, mesmo
porque os chineses se tornaram particularmente interessados em expandir suas
exportações para a União Europeia. Na expectativa de que esse relacionamento
venha a avançar, há grande chance de surgir um triângulo na geopolítica
mundial: China - União Europeia - Mercosul. A demanda chinesa por produtos em
que o Brasil tem vantagem comparativa é enorme e tende a aumentar mais como a
de grãos e de proteína animal. O que mais pesará na geração de emprego e
trabalho futuros será, sem dúvida, a pressão por ganhos de eficiência da
indústria, do comércio e dos serviços do Brasil que, até aqui, estiveram
anestesiados pelo protecionismo que sempre dominou a economia brasileira. O
setor do agronegócio está mais adiantado nesse campo, pois, há vários anos, vem
conquistando recordes de produtividade e reconhecimento mundial. Mas ele pode avançar
ainda mais, na medi- da em que os gargalos logísticos forem atacados, tais
como, a melhoria das estradas, da armazenagem, dos portos e dos aeroportos.
Tudo isso demandará agilidade do governo para acelerar as concessões de obras
de infraestrutura onde há enorme interesse dos investidores nacionais e
estrangeiros. O Acordo UE-Mercosul exercerá saudável pressão para o governo
reduzir a burocracia, simplificar os impostos, melhorar a segurança jurídica e,
com isso, atrair investimentos para criar oportunidades de emprego e trabalho.
Os ganhos
de eficiência e o impacto sobre o emprego e trabalho serão graduais, pois as-
sim será a redução de tarifas. Mas eles podem ser acelerados pela chegada de
empresários estrangeiros que para cá trarão novas tecnologias da Europa. Do
lado das empresas brasileiras, sobreviverão e crescerão as que, de fato,
concentrarem esforços na melhoria da produtividade e da competitividade.
Ou seja,
o Acordo UE-Mercosul submeterá a economia brasileira a dois fortes choques: um
interno (redução do Custo Brasil) e outro externo (demanda de um mercado
exigente). Essas forças ajudarão o Brasil a entrar na rota do crescimento
econômico sustentável, capaz de gerar poupança voltada para os investimentos
produtivos e facilitar a criação de emprego e trabalho.
É claro que todo tratamento de choque é doloroso
e tem efeitos colaterais. Nesse processo, haverá ganhadores e perdedores as-
sim como impactos criativos e destrutivos. Mas, historicamente, a abertura
comercial tem sido mais benéfica do que maléfica na geração de empregos. O
convite a maior eficiência está feito. Compete aos convidados dizer se querem
ou não participar do jogo.
Fonte: Correio Braziliense
Sexta feira 02 de agosto de 2019