Para os empresários, com um spread de 38,4% ao ano, o Brasil paga um preço alto para financiar o consumo
O presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), Ricardo Alban, cobrou, nesta sexta-feira, 14.6, uma maior contribuição do setor financeiro ao novo ciclo de desenvolvimento econômico que precisa acontecer no país. Isso passaria, na avaliação do presidente, pela redução dos custos do crédito uma vez que, entre as maiores economias do mundo, o Brasil é o país com o maior spread bancário, com uma taxa anual de 38,4%.
“Quando temos o maior spread do mundo, como estimular a atividade econômica e o consumo? Todos – setor produtivo e consumidor – são afetados. Sabemos que o consumo de bens duráveis são alavancados pelo financiamento, então precisamos ter juros mais realistas”, destacou Alban. Para ele, é preciso “fazer uma crítica construtiva e não se pode achar normal que o ciclo do setor financeiro seja sempre ascendente”.
O tema foi discutido no seminário Spread Bancário no Brasil, que contou com a participação de especialistas e empresários da indústria e do comércio, no auditório da FIEB, em Salvador. O evento foi uma iniciativa da FIEB e da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), com o apoio da Rádio BandNews FM.
O presidente da Fecomércio-BA, Carlos Andrade, ratificou as declarações de Alban e ressaltou que as altas taxas de juros cobradas afetam o desenvolvimento do país. Além disso, o spread elevado “torna o exercício de criar uma empresa, seja no comércio ou na indústria uma experiência difícil. Não há como se desenvolver com esse spread abusivo”, acrescentou.
O spread bancário é a diferença entre o que as instituições pagam para captar dinheiro e o que cobram quando realizam empréstimos. No comparativo com outros países, em 2017, o spread brasileiro alcançou o índice de 38,4%, enquanto a média mundial foi de 5,4%, conforme aponta o Banco Mundial. Levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) revela que, entre 2011 e 2016, o spread bancário registrou um aumento de 52%, fazendo com que a taxa brasileira correspondesse a 16,4 vezes o spread de países comparáveis com o Brasil.
Para abordar o tema, foram convidados os especialistas Godofredo Massarra, professor de Mercado de Capitais e analista do Banco Central, que detalhou os aspectos que impactam na formação do spread na palestra “Decompondo o Spread Bancário”. O chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, falou sobre “O impacto do spread brasileiro no comércio”.
Para Bentes, a atividade produtiva é fortemente impactada pelo spread. “O consumidor final, ao comprar um produto a prazo, é obrigado a pagar taxas de juros muito elevadas. Isso faz com que a capacidade dele de zerar essa dívida e voltar a consumir seja muito reduzida”, explica. Para o representante da CNC, “o grande problema do spread é que ele desvia recursos do setor produtivo, que emprega mais, para o setor financeiro. A gente vive hoje ainda uma crise de emprego no Brasil. Daí a importância de se tentar, pelo menos, diminuir o prejuízo provocado por spreads tão altos”.
Os especialistas defendem que o grande desafio é conscientizar a sociedade. Massarra acredita que se a sociedade brasileira tivesse educação financeira não aceitaria taxas de juros tão elevadas como as que são praticadas no Brasil. Ele lembrou o esforço do Banco Central de buscar formas de ampliar a educação financeira da população. “Na medida em que as pessoas têm conhecimento de como funciona o sistema financeiro, elas podem barganhar nas instituições financeiras, juros menores”, aponta o analista do BC.
OLIGOPÓLIO
O debate entre os palestrantes teve também a participação do economista Armando Avena, que chamou atenção para o oligopólio do sistema financeiro e lembrou que duas das cinco maiores instituições bancárias que dominam o mercado de crédito no país pertencem ao governo, no caso, Banco do Brasil e Caixa Econômica. Isso, na avaliação do economista, além do fato de ser o sistema bancário que financia o déficit público, explicaria a alta concentração bancária e as distorções nas taxas cobradas pelos bancos no país.
O presidente Ricardo Alban destacou o esforço que a FIEB vem empreendendo para conscientizar os empresários vinculados à federação no sentido de criar novas possibilidades de acesso ao crédito por meio das fintechs e cooperativas de crédito. “Estamos fechando parcerias para levar aos sindicatos o conhecimento destas alternativas”, destacou o presidente, chamando ainda a atenção para a necessidade de se fazer uma política mais ampla para o setor financeiro, atraindo empresas internacionais. “O governo não faz política de atração de investimentos para obras de infraestrutura? Então, vamos fazer uma política de atração do setor financeiro internacional para o Brasil. Ele é tão lucrativo que deve ser mais fácil atraí-los”.
O empresário Hilton Lima participou do seminário e elogiou a iniciativa. “O setor financeiro é cartelizado e é preciso desmontar esta cultura. Este seminário ajudou muito a discutir estes pontos para se buscar uma solução. Como vimos aqui, é preciso adotar uma série de medidas para corrigir esta situação”.