Desde o último grande apagão, no dia 7 de março, que deixou cerca de 90% da Venezuela às escuras, incluindo a capital Caracas, já faz 30 dias que o abastecimento de energia em Roraima está a cargo de cinco usinas termelétricas. De acordo com a Roraima Energia, subsidiária da Eletrobras, responsável pela distribuição de energia no Estado, não há previsão de retorno do Linhão de Guri.
Apesar das dificuldades energéticas, sem as termelétricas a situação seria mais grave. De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Desdobramento e Beneficiamento de Madeiras, Laminados e Compensados de Roraima (Sindimadeiras-RR), Oneber de Magalhães Queiroz, cerca de R$ 34 milhões deixariam de circular dentro de Roraima, caso o Estado ficasse 30 dias sem energia.
"São extraídos e vendidos cerca de 1.100 metros cúbicos por dia, o prejuízo inicial seria de R$ 1,2 milhão diários. Depois são somados gastos logísticos: seriam 55 caminhões a menos circulando entre Manaus e Boa Vista, o que faria com que 440 mil litros não fossem consumidos dentro de Roraima. Mais 165 caminhões das madeireiras deixariam de circular dentro do estado e menos 1,4 milhão de litros não seriam utilizados, fora o que o Estado não arrecadaria com o ICMS e os postos de trabalho que seriam fechados consequentemente", explicou Magalhães.
As termelétricas surgiram como opção de energia em Roraima em 2014, quando o Estado lançou um plano de investimento em usinas térmicas e geradores. À época, o fornecimento de 200 megawatts de energia hidrelétrica pela Venezuela não era entendido como suficiente, além de ter oscilado e sido interrompido algumas vezes.
Antes do apagão deste ano no país vizinho, a importação de energia elétrica da Venezuela era de apenas 30 MW (megawatts) durante o dia, pelas termelétricas. À noite, o volume aumentava para 120 MW.
PREÇO
Apesar do acionamento das térmicas fazer com que o preço da eletricidade tenha um custo muito mais alto do que a linha de conexão para a Venezuela, cuja geração é hidrelétrica, esse impacto é absorvido por um subsídio nas contas de luz: a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC). Além disso, a partir de 2020 a tarifa de energia será mais barata, segundo o governo.
"Não há impacto nenhum para o consumidor, não vai mexer em tarifa, já que os custos são subsidiados pela conta nacional para todas as regiões do Brasil onde seja necessária a geração térmica", destacou o diretor de Relações Institucionais da Roraima Energia, Anselmo Brasil.
O restante dessa conta? É rateada entre as contas de luz em todo o País, como explicou o diretor. Brasil entende também que as termelétricas são confiáveis enquanto não há definição mais concreta sobre Tucuruí. "Com as termelétricas, vamos ter uma maior confiabilidade no nosso sistema. E, caso ocorra um problema sério na Venezuela, de perder aquela linha [de transmissão], nós temos geração suficiente para manter toda a demanda do estado até a interligação ao Sistema Nacional", assegurou.
Roraima é o único dos 27 estados brasileiros desconectados do sistema elétrico nacional. Metade do suprimento de energia vinha da usina hidrelétrica de Guri, na Venezuela, através de uma linha de transmissão inaugurada em 2001 pelos então presidentes Hugo Chávez e Fernando Henrique Cardoso.
LINHÃO
Tudo seria mais simples e econômico caso o Estado fizesse parte do Sistema Interligado Nacional (SIN). A medida depende da construção do linhão de transmissão Manaus-Boa Vista, o chamado linhão de Tucuruí.
Licitado em 2011, o projeto ainda está em processo de licenciamento ambiental, em razão de um impasse envolvendo os índios Waimiri-Atroari, que habitam a região. O motivo é o traçado previsto para o linhão. Dos 721 quilômetros da malha, aproximadamente 123 passam dentro da Terra Indígena.
No dia 27 de fevereiro, o governo resolveu declarar o linhão um empreendimento de infraestrutura de interesse da política de defesa nacional. Com a declaração, em tese, o governo pode acelerar as etapas para que o projeto receba o licenciamento ambiental. Mas apesar do interesse, as obras de construção do linhão têm previsão de início somente a partir do dia 30 de junho.
Caso não aconteçam novos atrasos na obra, a ligação ficará pronta em 2024. Estima-se que o custo de conclusão da linha seja de R$ 1,6 bilhão.
VENEZUELA
A Venezuela vive um programa de racionamento de energia que pode durar por até um ano. O programa de recuperação do sistema de eletricidade no país começou no início do mês. No sábado (6), Maduro afirmou que o país "está em uma verdadeira emergência elétrica" e que por causa dos constantes apagões, vai haver racionamento de energia por um mês.
Maduro culpou os Estados Unidos pela instabilidade energética no país e disse que "ataques cibernéticos" ocorreram por intermédio de pessoas infiltradas na empresa estatal de energia Corpoelec. Segundo ele, o objetivo é desestabilizar seu governo por meio de sabotagem cibernética.