Difícil encontrar uma tarefa ou uma profissão que
não tenha a participação das mulheres. E se houver, as chances de
elas estarem chegando lá são grandes.
A presença da mulher no mercado de trabalho avançou
muito nas últimas décadas e apesar de isso não significar um cenário ideal,
hoje em dia é possível ver grande participação feminina em atividades
tipicamente masculinas, como a troca de pneus e a pilotagem de aviões. Todo
lugar é lugar de mulher.
Desde a 1ª Revolução Industrial, no final do século XVIII, as mulheres
fazem parte do mercado de trabalho. Elas precisavam trabalhar para sustentar as
famílias enquanto os homens estavam na guerra e as fábricas precisavam de mão
de obra. Dessa forma o sexo feminino foi inserido na indústria.
Começou aí a era da jornada dupla, pois assumir empregos industriais não
eximiu as mulheres da responsabilidade sobre o trabalho doméstico. Muito pelo
contrário. As atividades remuneradas eram as mesmas para trabalhadores
independentemente de gênero. Só o salário que não. Mulheres chegavam a ganhar
até 60% menos do que os homens.
Passadas três revoluções industriais, sendo a 4º revolução em pleno
desenvolvimento, o sexo feminino ganhou mais importância. Segundo dados de 2018
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres compõem
51% dos trabalhadores brasileiros. Na indústria, elas respondem por 30% dos
cargos, de acordo com o Ministério da Economia, rompendo barreiras e
preconceitos para atuar em diversos ramos.
A coordenadora de vendas e recapagem Caruani de Lucenas Minozzi faz
parte desses números. Ela começou a trajetória na Goodyear, em São Paulo, há 12
anos, como auxiliar e foi conquistando cargos melhores na empresa no decorrer
do tempo. Inserida em um setor predominantemente masculino, ela dedica parte
significativa de seu tempo a viagens acompanhando e conhecendo melhor seus
clientes.
Em casa, como outras mulheres, Caruani também
administra tarefas domésticas e a criação dos dois filhos. A força que a motiva
diariamente para seguir a rotina cresceu ainda mais há 5 anos, quando o marido
sofreu um acidente e ficou com algumas limitações.
“Quando ele se acidentou eu tive que ser ainda mais
forte e não deixar a peteca cair. Eu não tinha tempo para me vitimizar e isso
me ajudou muito a chegar onde eu cheguei”, relata.
Ela é formada em marketing e defende o poder do
público feminino e condições iguais em qualquer segmento. “Nós precisamos
nos valorizar e mostrar para a companhia as nossas qualidades. Saber competir,
entender como funcionam os negócios e definir nossas prioridades, mostrando
também que nós temos competência”, afirma Caruani.
NOS CÉUS – As mulheres também estão
conquistando os céus. O mais recente levantamento realizado pela Agência
Nacional de Aviação Civil (ANAC) aponta um crescimento de 106% no
número de licenças concedidas a mulheres para atividades aéreas, entre 2015 e
2017, excluindo a carreira de comissário de bordo que, historicamente, sempre
teve mais participação feminina.
O Brasil fechou 2018 com 1.645 pilotas. Uma
delas é Fabíola Castro, única pilota de testes do país, que trabalha na Embraer.
Ela descobriu a paixão por aviões na infância, enquanto brincava com as
miniaturas do irmão. “Ele ganhou uma caixinha de carrinhos de ferro e vieram
dois aviões, um prata e um branco. Era uma coleção daquelas de ficção e ele
deixou os aviões para mim”, explica Fabíola.
O tempo passou e ela decidiu ingressar na
universidade de turismo, área na qual se formou e atuou por anos, até o dia em
que resolveu apostar no antigo sonho de pilotar. “No final de 2010, larguei
tudo, voltei para o Paraná e falei: ‘eu quero ser pilota e eu vou ser pilota”,
conta Fabíola.
Quando disputou a vaga de piloto de testes na
Embraer, ela tinha como concorrentes outras duas candidatas, prova do aumento
da participação feminina no setor aeronáutico. Aprovada há um ano, ela trabalha
todo dia com o que sempre quis: testar e demonstrar aeronaves executivas e
comerciais da empresa, como os jatos das famílias E1 e E2 e o Lineage 100E,
sobrevoando, pousando e decolando em regiões de montanhas, mares, desertos,
florestas nos quatro continentes.
MULHER DE VISÃO – Mulheres também estão à
frente de pequenas, médias e grandes empresas. Estão ainda no mundo das
startups, empresas novas, de base tecnológica. A médica e arquiteta Fernanda
Bonatti ingressou nesse ramo em 2005. Sócia e diretora da Bonavision, empresa da Incubadora USP/IPEN-Cietec, dedicada a encontrar soluções
para melhorar a vida de pessoas com problemas de visão, Fernanda não tem
dúvidas do potencial das mulheres.
“A capacidade intelectual da mulher, somada à sua
grande habilidade de relacionamento interpessoal, resulta na excelência em
ocupar qualquer papel que ela quiser no mercado de trabalho”, acredita.
O produto mais famoso da empresa é a Prancha de
Leitura com Lupa Deslizante. Fernanda conta que a ideia surgiu no fim da
faculdade de Arquitetura, inspirada no avô que tinha deficiência visual. Para
retirar o projeto do papel, ela fundou a empresa Bonavision com o apoio da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“Consegui aplicar e integrar os meus conhecimentos da medicina e da
arquitetura/design. As inovações surgem de projetos multidisciplinares. É
preciso agregar conhecimentos de áreas diferentes para a obtenção de novos
resultados”, explica.
Ela vivenciou muitos momentos de superação, mas um
dos assuntos que destaca é a maternidade na carreira das mulheres. Para ela, o
currículo profissional anula essa fase da vida, mas não significa que não houve
trabalho e aprendizado. “A criação de filhos representa um período de superação
também, um enorme aprendizado, em que a mulher é obrigada dar atenção a várias
coisas ao mesmo tempo, a ser muito organizada, a trabalhar e cuidar dos filhos,
a ter empatia e lidar com frustrações e dificuldades”, defende Fernanda.
O VALOR DA DIVERSIDADE – Na Alemanha, 71% das
mulheres trabalham, segundo a Agência Federal do Trabalho. Foi lá que a
vice-presidente de Serviços Técnicos e Infraestrutura da BASF para a América do Sul, Vera
Felbermayer, aprendeu desde cedo que a mulher não tem de agir como um homem
para chegar ao poder. “Mulheres não precisam se vestir como homens, reagir ou
falar como eles para ser boas profissionais. Diversidade é sobre isso: é sobre
ter pessoas diferentes, com diferentes pontos de vista em uma mesma sala”,
afirma Vera.
Atualmente morando no Brasil, a alemã é responsável
por um time com mais de 500 colaboradores das áreas de projetos e engenharia de
manutenção, manufatura inteligente 4.0, ambiental, saúde e segurança,
excelência operacional e energias aqui na América do Sul e conta que por muito
tempo foi a única mulher nos ambientes de trabalho.
Antes mesmo de chegar ao mercado de trabalho, ela
também já era uma das poucas no ramo. Na faculdade de Engenharia Mecânica da
Universidade de Darmstadt, na Alemanha, apenas 1% da turma era do sexo
feminino, mas nada fez com que ela desistisse. “Pode parecer um clichê, mas
nunca deixar de ser você mesma é o meu conselho”, afirma ela para as mulheres
que desejam ingressar nesse ramo ou em qualquer outro.