Nascido nas margens do Rio Paraíba, natural de Pilar (PB), Izaías Alves da Costa, 60 anos, mais popularmente conhecido como “Mestre Zaia” é radicado há 25 anos na capital potiguar.
Pai de seis filhos e esperando a sétima, Mestre Zaia me convida a sentar em um dos bancos de madeira que ficam em frente a sua pequena stand de vendas no Vilarte, shopping de artesanato, localizado em Ponta Negra, Zona Sul de Natal.
Filho de pais analfabetos, Zaia conta a dura vida que levou até o reconhecimento de seu trabalho. Perguntei-o sobre como ele se interessou pela argila, ao que respondeu: “A argila que surgiu na minha frente, nas minhas mãos, porque meus pais não tinham condições de comprar um brinquedo. Éramos em 14 filhos e a gente ia tomar banho no rio, pegava a argila e levava para casa para fazer nossos brinquedos”, conta. Com gestos simples nas mãos, Zaia também revelou o sucesso de seu trabalho quando ainda estava na escola, aos 7 anos, “eu levava meus brinquedos na escola e trocava por lanche com os “riquinhos” lá. Os ricos levavam os lanches porque não queriam comer a merenda escolar. Aí eu também já cansado da merenda eu levava meus brinquedos e trocava. E eles adoravam!”, recordou. Ao surgir tamanha repercussão os professores do pequeno Zaia chamaram seus pais à escola para falar sobre seu futuro nas artes e indicaram a Escola de Artes em Recife (PE), entretanto, não cogitaram a ideia por motivos de recursos financeiros limitados, já que sua mãe era doméstica e seu pai era da rede ferroviária.
Aos 13 anos, morando em Itabaiana (PB), os irmãos de Zaia abandonam o esculturismo, porém Zaia seguiu replicando imagens e aprimorando seus conhecimentos. Ele lembra que construiu o busto (imagem de cabeça, pescoço até a altura do colo) do diretor de sua escola. Aos 18 anos o Mestre das esculturas foi convocado pelo exército brasileiro para servir, em paralelo a convocação também veio o resultado do vestibular da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, informando que ele havia passado no processo seletivo do curso de Artes Plásticas. Dividido entre o dever e a paixão, ele conta: “contra a tudo e a todos eu fui servir ao exército mesmo sendo universitário. Mesmo assim eu levava a argila, fazia esculturas e vendia pro pessoal. Saí do exército com, o que hoje seria equivalente a R$ 10 mil reais”, disse.
O curso de artes não durou muito em sua caminhada, as ideologias não eram compatíveis com o estilo da vida militar e esse choque de interesses roubou a alegria de permanecer na academia, o que veio bem a calhar com a ideia de um amigo que o aconselhou a vender sua arte no Rio de Janeiro. Sendo assim, Zaia é dispensado do exército e parte para a capital carioca.
No Rio de Janeiro, ele localizou uma cerâmica que lhe fornecia a argila, onde pôde produzir suas primeiras esculturas. “A cerâmica eram duas horas a pé para chegar. As vezes eu ficava sem almoço, os peões da cerâmica é que dividiam a marmita comigo. Passava o dia sem comer, mas estava produzindo meus trabalhos e vendendo em Copacabana e Ipanema”.
Hoje as leis da venda e exposição de arte favorecem o artista de rua, entretanto, durante os anos 80 as regras legítimas regiam a arte através da indicação de um crítico. Esse documento assegurava ao artista o direito de vender ou expor seu produto. A avaliação da arte de Zaia foi feito grande artista e escritor Walmir Ayala, em que abriu os caminhos para o seu trabalho.
Um dos funcionários da rede globo convidou-o para fazer o primeiro trabalho cenográfico no ano de 1982. Eles gostaram do trabalho e em seguida o convidaram para ser aderecista, modelador, pintor, montando cenários, como os primeiros cenários do programa da Xuxa que foram executados por Zaia.
Após seu tempo na globo, Zaia passou a ministrar oficinas, curso de artes, terapia ocupacional nos manicômios (pela Legião Brasileira de Assistência - LBA), aulas em bolsas de apoio à arte e ganhou pauta nos e jornais locais.
Mestre Zaia também se consagrou pela participação na construção de carros alegóricos das escolas de Samba como: Beija-flor, Leão da Ilha, Portela; trabalhou fazendo maquete com Hans Donner, o criador do logotipo da Rede Globo, fez a escultura da novela Roque Santeiro, entre outros. Ainda trabalhou 5 anos para a BabyBrink, fábrica de brinquedos, em que seu trabalho ficou conhecido pela boneca da Sandy e as bonecas das Chiquititas. À convite, expôs no congresso nacional e deu inúmeras entrevistas para programas nacionais, como o Programa do Jô.
Com a carreira decolando, inesperadamente Zaia decide regressar ao nordeste e abrir mão de seu emprego no projac e trabalhos ligados à cidade carioca, para seguir com sua arte livre.
Em terras nordestinas, Zaia elege Natal como cidade-alvo para se estabelecer. “Eu fiquei encantado com a beleza natural e o turismo que favorecia a minha arte”, conta. A argila utilizada é extraída na jazida de Recife e da Paraíba por conta da coloração clara que facilita na aparição dos detalhes da escultura.
Outra arte que o Zaia está desenvolvendo é a construção do Castelo Mestre Zaia, que é um museu de artes plásticas cujo objetivo é contar sua trajetória em uma exposição divertida e emocionante dentro da capital potiguar.
Mestre Zaia expressa a valorização sobre sua arte: “eu consigo fazer esse trabalho belíssimo que todo mundo admira que é o trabalho difícil de retratar as pessoas(...) Toda a minha vida, dedicada à arte.”