Em entrevista, o presidente do Sinvel e Diretor comercial da indústria Água Viva, Ricardo Zupeli de Paulo, cita as vantagens de ter um negócio sustentável e fala do futuro do mercado de confecções.
Se até alguns anos, fatores como preço e qualidade eram os principais diferenciais competitivos das empresas, hoje importa também a relação que a companhia estabelece com a sociedade, em especial quando o assunto é responsabilidade socioambiental. Mais do que ter uma boa imagem no mercado, a empresa que se preocupa, de fato, com os impactos de suas ações no meio ambiente é capaz de ter bons resultados financeiros. Exemplo disto é a Água Viva, empresa linharense que atua no segmento de confecção. Por lá, a produção também precisa ser eficiente do ponto de vista ambiental. Para se ter uma ideia, as aparas de tecidos que sobram do corte são destinadas para uma recicladora em São Paulo, onde tais aparas são desfibradas e viram fios, que retornam para a tecelagem. “Todas estas ações vêm sendo um diferencial para a empresa e tem sido cada vez mais valorizado pelo mercado”, revela o diretor comercial da Água Viva, Ricardo Zupeli de Paulo. Em entrevista ao jornal Correio do Estado, ele cita as vantagens de ter um negócio sustentável e fala do futuro do mercado de confecções em Linhares.
Jornal CE: A Água Viva possui quase 30 anos de atuação em Linhares e é bastante conhecida pela população. Como a empresa foi fundada? De quem partiu a ideia de apostar no mercado de confecção?
Ricardo: Minha mãe sempre costurou em casa mesmo. Meu pai era contador e sempre administrou empresas de terceiros. Certo momento, ele pensou em juntar a expertise da minha mãe na costura com a dele em administrar empresas. Comprou uma meia dúzia de maquinas usadas e assim começou a Água Viva.
Jornal CE: A empresa tem uma gestão familiar? Os fundadores continuam atuando no negócio?
Ricardo: Sim. Toda família trabalha na empresa. Sr. Jose Adelino (diretor geral), Sra. Olindacir Zupeli de Paulo (diretora de produto), Ricardo Zupeli de Paulo (diretor comercial), Christiano Zupeli de Paulo (diretor industrial), aphaela Zupeli de Paulo (diretoria de compras e insumos) e o Alvaro Mozer (PCP e Faturamento).
Jornal CE: Quais mercados a empresa abastece hoje?
Ricardo: A empresa se especializou em atender grandes redes varejistas de moda, tendo seus produtos disponíveis em mais de 500 lojas distribuídas pelo
Brasil.
Jornal CE: A Água Viva obteve grandes resultados em meio à crise financeira. Tanto que inaugurou uma filial, recentemente, no bairro Novo Horizonte, em Linhares. Qual o segredo para se manter firme no mercado, em tempos difíceis? A própria essência do negócio já colabora para o seu sucesso?
Ricardo: Realmente muitas indústrias de confecção fecharam as portas nestes últimos anos. As indústrias que trabalham com marcas próprias, muitas vezes têm que produzir uma gama muito maior de produtos, fazendo com que diariamente mudem os modelos que entram na linha de produção.
Isso eleva muito os custos, pois impacta muito na eficiência, obviamente elevando os preços de venda destes produtos. Hoje, as grandes redes varejistas têm, em suas coleções, produtos de moda atualizada, de excelente qualidade e preços extremamente atraentes. Nestas épocas de crise, esse mix de vantagens acabou conquistando, de forma definitiva, uma grande parcela do mercado que antes compravam roupas de “marca”. Nós nos especializamos em bermudas e calças masculinas adulto e infantil.
Uma linha de produto específica nos permite ser mais eficientes, aumentando a produtividade e reduzindo custos.
Jornal CE: Um dos pilares da empresas é a produção sustentável, com responsabilidade social e ambiental. Como essa preocupação se reflete nos negócios? Você diria que é vantajoso ter esse tipo de preocupação?
Ricardo: As preocupações socioambientais já são uma realidade em todo mundo. O consumidor está cada vez mais buscando informações de como seus produtos de consumo chegaram até ele. Cada vez mais empresas do varejo buscam fornecedores que lhes deem a segurança de que não se esteja utilizando mão de obra escrava ou infantil, que as leis trabalhistas vigentes sejam respeitadas, e ainda buscando matéria-prima de menos impacto ambiental, destinando de forma responsável todo o resíduo industrial. A Renner, por exemplo, assumiu um compromisso público de que até 2021 terá 80% dos produtos feitos com matérias-primas e processos menos impactantes, e vai utilizar algodão certificado em 100% de sua cadeia de fornecimento. A Água Viva já produz peças com tecidos reciclados e certificados. Também desenvolvemos novos processos na lavanderia, onde obtivemos uma redução de mais de 40% do gasto de água, se comparado ao método tradicional. Todas estas ações vêm sendo um diferencial para a empresa e tem sido cada vez mais valorizado pelo mercado.
Jornal CE: Atualmente, você ocupa o cargo de presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário de Linhares. Quais são os desafios deste cargo e que demandas do setor são defendidas por você?
Ricardo: De uma forma geral, as empresas de confecção do Espírito Santo, e principalmente da nossa região, estão muito defasadas tecnologicamente.
Precisam também evoluir o modelo de gestão, para tentar se aproximar do modelo de Indústria 4.0. Produzir mais, com menos tempo e de forma sustentável, buscando métodos que lhe permitam ter preços mais competitivos, nunca abrindo mão de acompanhar as tendências e mudanças do mercado. A moda se movimenta de forma muito rápida e é preciso investir em ferramentas para conseguir acompanhar estas mudanças em tempo real.
Jornal CE: Qual é o futuro da indústria de vestuário em Linhares?
Ainda há espaço para expansão e até de absorção de mão de obra especializada, dado o crescimento da busca por cursos relacionados ao setor?
Ricardo: A indústria de confecção tem uma particularidade de empregar muita mão de obra. Além disso, 70% das vagas desse segmento são preenchidas por mulheres. Apesar de já termos tido muitos avanços, as mulheres ainda têm dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Enxergamos na indústria de confecção uma enorme oportunidade de trabalho para as elas. O Senai mantém permanentemente o curso de confecção e tem sido uma grande porta de entrada para esse mercado. Tendo conhecimento do mercado, e com foco em inovação, a indústria de confecção tem um enorme espaço para expansão na região, ampliando as vagas de empregos e aumentado a renda das famílias.