Com um olhar nos efeitos da eleição presidencial que ocorre em 2018, a indústria elétrica e eletrônica espera que o ano represente a consolidação da retomada da atividade iniciada no último ano.
Segundo a Abinee – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica -, o faturamento do setor deve atingir crescimento de 7% na comparação com 2017, projeção compatível com a estimativa do PIB, de cerca de 2,5%. A produção do setor também deve crescer 7% em 2018.
Os investimentos da indústria eletroeletrônica devem aumentar 10%, totalizando R$ 2,76 bilhões este ano. A estimativa da Abinee é de que o nível de emprego alcance 241 mil trabalhadores em 2018, um incremento de 3,8 mil pessoas. A utilização da capacidade instalada do setor deve passar de 77% em 2017 para 80%.
As exportações e as importações também devem crescer. As vendas externas têm previsão de aumento de 3%, uma vez que a taxa de câmbio deverá permanecer estável, o que não estimula as exportações. Já as importações devem subir 5%.
Segundo Sondagem realizada pela Abinee em dezembro passado, a primeira metade do ano deve desempenhar papel fundamental para os resultados de 2018. De acordo com o levantamento, 72% das empresas do setor esperam crescimento no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período de 2017.
De acordo com a pesquisa, 19% projetam estabilidade e 9%, queda. Para o primeiro semestre, 76% das pesquisadas indicam expectativa de crescimento. As expectativas mostram que todas as áreas representadas pela Abinee esperam crescimento, sendo que os produtos de consumo devem estar na dianteira desse aumento.
Para o presidente executivo da Abinee, Humberto Barbato, a agenda de reformas do governo, que traz antigas demandas da classe empresarial, tem contribuído de forma decisiva para a melhora do ambiente macroeconômico, devolvendo ânimo aos empresários.
“Estamos otimistas. Sabemos, todavia, que há um longo e árduo caminho a ser percorrido, para voltarmos aos níveis de negócios, produção e faturamento apresentados em tempos mais prósperos”, afirma.
Como ocorreu em 2017, o destaque deve ser as áreas de informática e de telecomunicações. No radar das empresas desses segmentos, entretanto, permanece a preocupação sobre os rumos da Lei de Informática, diante da condenação das políticas industriais brasileiras pela OMC – Organização Mundial do Comércio.
Segundo o diretor da área de Informática da Abinee, Hugo Valério, a grande expectativa orbita na resolução das questões levantadas sobre a Lei de Informática, de forma a promover um ambiente de negócios com menor risco.
O diretor da área de Dispositivos Móveis, Luiz Carneiro, acrescenta que 2018 será dedicado à estruturação da nova política. “Concentraremos todos os esforços para manter os atuais incentivos e contrapartidas, promovendo a competitividade da fabricação local e os investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação”, salienta.
Valério também destaca as questões macroeconômicas e estruturais, como a definição do cenário econômico e político de maior estabilidade, bem como a aprovação de reformas nas esferas trabalhistas, tributária e fiscal previdenciária. “Estas mudanças certamente contribuirão muito para a redução do chamado custo Brasil”, diz.
Já o diretor da área de Manufatura Eletrônica, Jorge Funaro, ressalta que a continuidade do controle da inflação e a consequente redução da taxa de juros trazem expectativa de crescimento, ainda que moderado.
Na área de infraestrutura de telecomunicações, a perspectiva é moderadamente otimista. A aprovação do PLC 79, que altera o modelo de concessões de telefonia, em tramitação no Senado, pode propiciar a retomada dos investimentos. “O PLC deve injetar novos valores, pois as empresas vão assumir compromissos de investir, caso se comprometam a migrar de concessão para autorizadas”, diz Paulo Castelo Branco, diretor da Área de Telecomunicações.
A opinião é compartilhada pelo também diretor da Abinee Aluizio Byrro. “O PLC 79 deverá aumentar em 20% os valores investidos pelas operadoras após a aprovação”, projeta.
No campo das oportunidades, outro fator relevante para o segmento de Tecnologia da Informação e Comunicação é a necessidade do amadurecimento do ambiente regulatório e tecnológico para finalmente fazer decolar a Internet das Coisas, como lembra o diretor da área de Componentes da Abinee, Rogério Nunes. “Isto proporcionará um crescimento ainda maior do setor de componentes, base de toda a infraestrutura tecnológica sobre a qual se fundamenta a sociedade atual”, diz.
Neste cenário, o diretor da Área de Automação, Raul Groszmann, também avalia que a expectativa para 2018 é de recuperação gradual dos negócios. “O maior impacto virá no final do ano e no início do próximo ano calendário”.
Setor elétrico no azul
Os segmentos ligados à área elétrica devem encerrar 2018 com desempenho positivo no faturamento, mas ainda abaixo do seu potencial. Segundo o diretor da Área de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica (GTD), Guilherme Mendonça, o segmento de transmissão continuará com alto investimento nos leilões. Já a geração permanece com alguma incerteza devido à demanda de energia no País. Por sua vez, distribuição contará com o aumento de investimentos em smart grid em função das exigências regulatórias e ganho de eficiência. “Na área industrial, infraestrutura e construção civil, a perspectiva é ainda de grande desafio com estagnação”, avalia.
Para o diretor da área de Equipamentos Industriais, Hilton Faria, enquanto não houver retomada da economia no Brasil, as oportunidades de crescimento continuarão concentradas no incremento de negócios na área de energia renovável, na venda de produtos com maior eficiência energética e na expansão internacional. “Estamos trabalhando para acelerar a expansão no mercado externo e apostando nas grandes tendências relacionadas à sustentabilidade e aquecimento global”, afirma.
Sem esperar uma melhora significativa em relação a 2017, o diretor da área de Utilidades Domésticas, Guilherme Lima, projeta que o real crescimento virá apenas em 2019, “salvo alguma turbulência política pós-eleições”.
Na área de Material Elétrico de Instalação, a estabilização dos indicadores no decorrer do segundo semestre de 2017 prenuncia tempos melhores, como aponta o diretor da Abinee Antonio Eduardo Souza. “Ainda longe de ser uma boa notícia, vemos uma mudança de tendência, o que impacta positivamente a perspectiva para 2018”. Segundo ele, este cenário positivo motivará os consumidores a realizar pequenos reparos, fazendo com que a engrenagem da economia volte a girar, “ainda com pouca força, mas em um sentido que projeta um futuro melhor que foi o passado”. As indefinições políticas e o andamento das reformas necessárias para o País, porém, ainda causam apreensão.