Há seis anos, a nutricionista Juliana Crucinsky descobriu que tinha doença celíaca. Após perceber que as dores abdominais sumiram sem o glúten na dieta, ela fez exames e recebeu o diagnóstico. Uma trajetória que nem todo mundo repete: há quem só exclua o glúten, mas sem o tratamento correto os celíacos podem desenvolver sérias complicações. "A dieta sem glúten vem se popularizando, mas quem realmente precisa se manter bem longe deles são as pessoas que têm alguma desordem relacionada ao glúten, como a doença celíaca, a sensibilidade ao glúten não-celíaca ao glúten e a alergia ao trigo", explica a nutricionista, que também atua como consultora técnica da Fenacelbra (Federação das Associações de Celíacos do Brasil).
COMO VOCÊ DESCOBRIU QUE TEM A DOENÇA CELÍACA?
Descobri entre o final de 2010 e o inicío de 2011. Já era nutricionista, mas só conhecia a forma clássica da doença, que causa diarreia e desnutrição intensas. Primeiro testei a dieta sem glúten, para ver se faria diferença, já que eu achava que não tinha nenhum problema associado a esta proteína. Não perdi peso, mas percebi melhora nas crises de enxaqueca, o intestino passou a funcionar melhor, ganhei mais disposição para malhar, minha concentração melhorou, parei de ter aftas, a barriga desinchou. Voltei a comer pão e os sintomas pioraram muito, eu tinha muita dor abdominal. Inconformada, busquei informações em artigos científicos e na Acelbra-RJ. Quando fiz os exames, os resultados foram inconclusivos, porque eu já fazia a dieta havia algum tempo. O médico fechou meu diagnóstico com base no meu histórico de melhora sem glúten e com base na inflamação duodental e no meu genético positivo para os dois principais marcadores da condição celíaca, o DQ2 e o DQ8.
POR QUE É IMPORTANTE TER O DIAGNÓSTICO MÉDICO?
Se a exclusão do glúten não for feita de maneira correta, celíacos podem desenvolver sérias complicações, desde anemia e osteoporose até linfoma intestinal, passando ainda por infertilidade, neuropatia, demência e surgimento ou agravamento de outras doenças autoimunes. As pessoas que apenas excluíram o glúten, sem ter um diagnóstico fechado, difícilmente mantêm todos os cuidados com a alimentação e com a contaminação. Com isso, aumentam o risco de ter complicações.
O MODISMO MUITAS VEZES FAZ COM QUE OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NÃO LEVEM A SÉRIO AS QUEIXAS DOS PACIENTES, ATRAPALHANDO O DIAGNÓSTICO E O TRATAMENTO.
HÁ ALGUMA ESTIMATIVA DE QUANTOS BRASILEIROS PODEM SER CELÍACOS SEM SABER?
Infelizmente, esse é um dado de que não dispomos, mas acredita-se que para cada celíaco diagnosticado possam existir pelo menos dez diagnóstico. Isso sem contar os sensíveis e os alérgicos, que passam pela mesma peregrinação em busca de um diagnóstico.
Para mim, esse tipo de informação é divulgado por quem realmente acredita que a única dieta sem glúten possível seria uma dieta cheia de farinhas refinadas e açúcar. De um modo geral, as orientações para prevenção do diabetes tipo 2 são as mesmas para quem como com ou sem glúten: fazer exercício, manter o peso dentro de parâmetros saudáveis e comer comida de verdade. O alarmismos causado por esse tipo de informação prejudica demais as pessoas com desordens relacionadas ao glúten, por muitas se sentem inseguras ao continuar na dieta, com medo de complicações, em vez de servir como alerta aos adeptos da dieta da moda. Desde 2013 a Fenacelbra disponibiliza gratuitamente uma cartilha, com os Dez Passos para a Alimentação do Celíaco, justamente para mostrar que a dieta sem glúten pode e dece sem saúdavel e bem variada.