MILHO: PRESSÃO DA SAFRA DE VERÃO VOLTA A PREVALECER
Amenizada a crise da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que completa duas semanas hoje, o mercado de milho aos poucos se ajusta, embora a comercialização continue bastante lenta e apenas em lotes pontuais. Na semana, em várias praças pesquisadas pelo Broadcast Agro, os preços permanecem estáveis, mas ao longo do mês as cotações continuam cedendo, em função da entrada da safra de verão e também do quadro de abastecimento de compradores.
Conforme a XP Investimentos, o cenário baixista permanece. A consultoria registrou ontem o 14º dia consecutivo de queda em seu indicador de milho. "São comuns os relatos de compras fora de São Paulo, beneficiadas pela alta disponibilidade na origem e recuo dos fretes", diz a XP. "Atualmente, a amostra aponta para R$ 29,48/saca, com queda de R$ 0,20/saca frente a quarta-feira (29). O indicador é o menor desde o início do levantamento (outubro)."
Já para a Agroconsult, que ontem divulgou sua projeção para a safra de soja no País, que deve alcançar 113,3 milhões de toneladas, a Operação Carne Fraca deve ter reflexo negativo sobre a demanda interna de grãos, mas ainda é muito cedo para avaliar o tamanho desse reflexo, conforme o sócio-diretor da consultoria, André Pessôa. "É muito cedo para avaliar, mas que há um reflexo negativo não resta dúvida", ressaltou, citando as notícias de pressão de importadores por redução de preço das carnes brasileiras.
Pessôa destacou, contudo, que o milho já vinha em queda mais acentuada antes mesmo de a Operação Carne Fraca ser deflagrada, com a perspectiva de uma safrinha gigante de milho, de 65 milhões de toneladas, no Brasil por causa do crescimento de área, se o clima favorecer. "O preço ficou mais baixo do que deveria por causa da Carne Fraca. Vai permanecer? Acho que não. Meu palpite é de que vai ter efeito passageiro", ponderou.
Paralelamente, a Emater-RS divulgou ontem que a colheita da safra de milho no Rio Grande do Sul já atinge 70% da área plantada na safra 2016/17, com ritmo um pouco mais lento em razão do deslocamento das máquinas e estruturas de beneficiamento para a cultura da soja, informou nesta quinta-feira a Emater/RS-Ascar. Na lavoura, 20% das plantas estão maduras e por colher e 10% em enchimento de grãos.
O valor à vista em reais do indicador do milho Cepea/Esalq/BM&FBovespa fechou R$ 30,27 a saca de 60 quilos (+0,36%). Em dólar, o preço ficou em US$ 9,65/saca (-0,21%).
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS NO MERCADO FISICO
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No norte do Paraná, havia pouca movimentação na negociação de milho. Segundo corretor da região, participantes optaram por se afastar do mercado, enquanto aguardavam a divulgação do relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) nesta sexta-feira. Vendedores pediam R$ 27/saca para retirada imediata no norte paranaense, com pagamento em 30 dias, mas compradores sugeriam R$ 25/saca. "Isso era apenas uma ideia, porque não houve negócio", contou corretor de Maringá.
Para negociação antecipada da safrinha 2017, compradores ofereciam até R$ 29/saca para entrega em junho e pagamento em julho no Porto de Paranaguá, mas vendedores estavam fora. O preço acompanhou a queda de Chicago e recuou ante a véspera em torno de R$ 0,50/saca. Na região, o milho primeira safra se beneficiou com as condições climáticas favoráveis, e apresentou bom rendimento, afirma o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Estado, em relatório diário. Já o milho segunda safra aproxima-se de seu plantio, com algumas lavouras ainda aguardando mais umidade para germinar.
Em Primavera o Leste (MT), também só se registravam negócios pontuais. A indicação no disponível era de R$ 20/saca, com pagamento sobre rodas.
O mercado spot em Santa Catarina está bastante parado. Com comprador abastecido e indo pouco às compras, rodam apenas lotes restritos de milho. Quanto à Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que completa duas semanas hoje, o corretor Amarildo José Baldisera, da Água Corretora, de Videiras (SC), comenta que "ainda é cedo" para ver o real impacto na cadeia de grãos e carnes no País. "Algum efeito já teve e ainda deve ter, mas é difícil calcular quanto e por quanto tempo", avaliou. "Vamos ver, à medida que o mercado externo for se ajustando, como vai ficar. Certo é que, no primeiro momento o fato de muitos países compradores terem vetado a carne brasileira isso afeta diretamente a comercialização na origem", comentou.
No disponível ontem, a indicação de compra era de R$ 25,50 a R$ 26/saca FOB, enquanto vendedor pedia pelo menos R$ 26,50 até R$ 27,50/saca FOB, para retirada imediata e pagamento em 30 a 45 dias. "Rodam apenas volumes pequenos", comentou Baldisera. "Além disso, consumidores estão se abastecendo nas compras de balcão, diretamente do produtor." Os preços têm se mantido na semana. "Chegou a um patamar que já não agrada ao produtor e ele tira o pé. Não está disposto a entregar o milho por esses preços."
Quanto ao milho futuro, safrinha 2017/18, a corretora comercializa a safrinha de outros Estados, já que Santa Catarina não planta safrinha. As indicações para o oeste e norte do Paraná estavam ontem entre R$ 25 e R$ 26,50/saca, posto na Região Sul, para entrega entre junho e julho e pagamento 30 a 45 dias após a entrega.
Bolsa de Chicago
Os futuros de milho fecharam em leve baixa nesta quinta-feira na Bolsa de Chicago (CBOT), após dados de vendas dos EUA que vieram abaixo da expectativa do mercado. O Departamento de Agricultura do país (USDA) disse que exportadores venderam 842 mil toneladas de milho na semana passada, enquanto analistas esperavam um volume de pelo menos 900 mil t. O vencimento maio cedeu 1 cent (0,28%), para US$ 3,5750 por bushel.
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SOJA: RELATÓRIOS DO USDA DEVEM DIRECIONAR PREÇOS EM CHICAGO
Os contratos futuros de soja na Bolsa de Chicago (CBOT) fecharam em baixa, com investidores dando continuidade à preparação para os números de área nos Estados Unidos que o Departamento de Agricultura do país (USDA) divulga hoje e com novas estimativas elevadas para a safra de soja brasileira. O vencimento maio recuou 6,00 cents (0,62%) e fechou em US$ 9,63 por bushel. Nem os números de demanda firme ajudaram a segurar o mercado ontem. Nesta sexta-feira, o USDA divulga os relatórios de intenção de plantio para a safra 2017/18 e de estoques trimestrais.
A previsão de que o governo dos EUA vai elevar sua estimativa para a área de soja na temporada 2017/18 continua pressionando o mercado, com traders tentando antecipar qual será o aumento ante o ciclo passado. De acordo com analistas consultados pelo The Wall Street Journal, a área semeada com soja deve ser projetada em 88,128 milhões de acres (35,66 milhões de hectares), de 83,433 milhões de acres (33,76 milhões de hectares) no ciclo anterior. Em fevereiro, o governo dos EUA tinha estimado a área em 88 milhões de acres (35,6 milhões de hectares) no Fórum de Perspectivas Agrícolas.
Segundo a analista Andrea Cordeiro, da Labhoro, o mercado já vinha se ajustando em meio à expectativa para o relatório de intenções de plantio. A analista ressalta que a postura do produtor norte-americano - que tradicionalmente prefere áreas maiores de milho -, de apostar na soja, está se mantendo desde as primeiras estimativas divulgadas pelo USDA no Fórum de Perspectivas Agrícolas em fevereiro. "A relação de paridade milho e soja continua nos mesmos níveis do fim de fevereiro, quando a gente teve o fórum, e os produtores devem ter realmente um número de área de soja bem maior do que na temporada passada", ponderou. "Se você juntar isso à entrada da safra brasileira, ao peso das várias consultorias, que têm se posicionado sobre uma safra igual ou superior a 110 milhões de toneladas no Brasil e uma perspectiva de uma safra argentina próxima de 57 milhões de toneladas, mais safra do Uruguai e Paraguai, você tem realmente um peso da safra sul-americana entrando no mercado."
A consultoria Agroconsult projetou na quinta-feira a produção de soja do Brasil em 2016/17 em 113,3 milhões de toneladas, aumento de 18% ante o total de 96,3 milhões de toneladas obtidas no ciclo anterior. Em fevereiro, durante o 4º Encontro sobre Previsão de Safra da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), a consultoria havia projetado safra de 107,8 milhões de toneladas. Em janeiro, antes do começo do Rally da Safra 2016, a consultoria esperava 104,4 milhões de toneladas. O sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, destacou que a mudança de patamar de produtividade no Brasil antecipada pela consultoria no ano passado se confirmou nesta safra.
Para Pessôa, a safra 2016/17 marca o início de uma nova fase no País. "Quase não vimos lavouras ruins no Brasil", ponderou. Segundo o analista, pela primeira vez, três Estados do País devem fechar com média de produtividade acima de 60 sacas por hectare (Paraná, Santa Catarina e São Paulo). Pessôa destacou ainda que 26% das amostras obtidas no Rally indicaram produtividade acima de 70 sacas/hectare, ante 12% na temporada passada. Para o analista, o investimento em tecnologia que vinha sendo feito nas safras anteriores só estava aguardando um clima amplamente favorável para se manifestar. "Estamos mudando de patamar de produtividade." Com isso, o rendimento médio no Brasil deve saltar de 48,2 sacas por hectare para 55,8 sacas por hectare, enquanto a área cresceu de 33,3 milhões de hectares para 33,9 milhões de hectares.
Andrea, da Labhoro, ressaltou que, além da perspectiva de aumento de área nos EUA e das estimativas maiores para a safra do Brasil, nos últimos 10 dias a competitividade da soja sul-americana, especialmente a brasileira, aumentou. "Os prêmios do Brasil cederam bastante e, com isso, as nossas ofertas, que eram superiores em US$ 8 ou US$ 9 por tonelada, tiveram uma aproximação e estão praticamente em linha com os preços praticados no Golfo dos EUA", destacou. "A soja brasileira passa a ser competitiva principalmente para os embarques de junho em diante." Isso tem acrescentado pressão sobre os preços.
Ontem, o USDA disse que exportadores relataram vendas de 165 mil toneladas de soja para a China, com entrega prevista para a safra 2017/18. Separadamente, o governo dos EUA informou que exportadores do país venderam 681 mil toneladas de soja da safra 2016/17 na semana encerrada em 23 de março. O volume representa aumento de 15% ante a semana anterior e de 42% na comparação com a média das últimas quatro semanas. Para 2017/18, as vendas totalizaram 315.600 toneladas. A soma de ambas as safras, de 996.600 toneladas, ficou próxima do teto das estimativas de analistas consultados pela Dow Jones Newswires, de 1,05 milhão de toneladas.
A analista da Labhoro ponderou ainda que a movimentação recente dos fundos de saírem de apostas de alta nos preços também precisa ser acompanhada. "Lá atrás eles tinham uma posição superior a 120 mil contratos comprados e zeraram as suas posições. Eles amanheceram o dia de hoje (ontem) com aproximadamente 4 mil contratos e com o movimento que tivemos não acho imprudente afirmar que alguns fundos já vão amanhã (hoje) para o relatório com posições vendidas", destacou a analista, chamando a atenção para a rapidez do movimento. "Se eles demoraram três semanas para sair de 60 mil contratos, só precisaram de quatro pregões para sair de 55 mil contratos. Então o movimento de liquidação nesses últimos quatro pregões foi impressionante."
Para Andrea, a demanda deve continuar sendo monitorada e pode ser um fator de sustentação dos preços. "A gente precisa ter demanda, a soja americana precisa continua sendo demandada também, não é só a soja brasileira. E o mercado vai acompanhar isso: para que país de origem a China direcionará suas compras." Porém, a analista pondera que, se números elevados de área plantada de soja se confirmarem, e se o produtor norte-americano conseguir semear efetivamente toda a área planejada de soja, além da demanda, seria necessário algum outro fator altista, como alguma adversidade climática durante a temporada, para dar maior sustentação ao mercado.
Do ponto de vista dos preços, Pessôa, da Agroconsult, disse ontem que é difícil que o preço em reais iguale o do ano passado por causa do câmbio, mas ponderou que, para os preços internacionais, há perspectiva de recuperação. "Em dólares, o valor de US$ 10 por bushel estará em algum momento do ano de novo na tela. Estamos com cotação abaixo disso por causa do pico da safra. Mas considerando 2016/17 sobre 2015/16 o consumo de soja no mundo cresceu 21 milhões de toneladas. Nunca deu um salto desse tamanho", ponderou Pessôa, acrescentando que a demanda tem potencial para dar suporte às cotações. "Mesmo com uma safra enorme nos EUA e gigante no Brasil, faz uma semana que os preços estão abaixo de US$ 10 por bushel. E não faz só uma semana que se sabe que é uma safra grande."
COTAÇÕES DO COMPLEXO SOJA NA BOLSA DE CHICAGO
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No mercado doméstico, o dia foi novamente de pouca movimentação. O dólar à vista no balcão terminou com alta de 0,93%, a R$ 3,1467.
No norte do Paraná, poucos negócios foram reportados na quinta-feira. Segundo corretor da região, participantes optaram por se afastar do mercado, enquanto aguardam a divulgação do relatório de área do USDA na sexta-feira. Posto na ferrovia em Maringá, compradores falavam em R$ 62 por saca, com entrega imediata e pagamento em 20 dias. Para retirada no entorno de Maringá, a ideia de compradores girava em torno de R$ 63 por saca para retirada imediata e pagamento em 30 dias. No oeste do Estado, havia pedida de vendedor a R$ 62/saca, mas compradores ofereciam R$ 61,50/saca, e não saíram negócios. Corretor de Maringá disse ter registrado venda de pequeno volume a R$ 67,50/saca para entrega imediata e pagamento em 20 dias no Porto de Paranaguá. Os preços recuaram, em média, R$ 0,50/saca em relação ao dia anterior, acompanhando o recuo de Chicago. O Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Estado, afirmou, em relatório diário, que, na região norte do Estado, com poucas lavouras ainda a colher, que não perfazem porcentagem frente a área da região, a colheita de soja apresentou na maioria dos municípios uma produtividade boa.
Em Primavera do Leste (MT), a indicação de compra era de R$ 55/saca para retirada imediata e pagamento em 10 de abril, e havia registro apenas de negócios pontuais ontem.
Em Santa Catarina, a indicação no disponível ontem era de R$ 67/saca, posto Porto de São Francisco do Sul, para entrega em abril e pagamento em maio. Rodaram poucos volumes por este valor, informou o corretor Amarildo José Baldisera, da Águia Corretora, de Videira (SC). No início da semana, se falava em R$ 69/saca no porto.
Quanto à soja futura, safra 2017/2018, as indicações na quarta-feira (29) alcançavam R$ 71,50/saca para entrega em janeiro e pagamento em fevereiro do ano que vem. "Só era indicação; não rodaram lotes. A soja futura está muito parada", comentou Baldisera.
O indicador de preços da soja Esalq ficou em R$ 62,13/saca (-0,16%). Em dólar, o indicador ficou em US$ 19,81/saca (-0,75%). O indicador é calculado pela Esalq com base nos preços do mercado disponível em cinco praças do Estado do Paraná.
EVOLUÇÃO DE PREÇOS NO MERCADO FÍSICO DE LOTES
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