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"O próprio combustível vai fazer a limpeza da parte interna da válvula injetora. Não há a necessidade de limpar a válvula internamente", explica o mecânico Tedd Medeiros, proprietário da oficina Futura Imports em Guarulhos/SP. Portanto, quando falamos em "bico injetor sujo", entendemos que a sujeira não se acumula dentro da válvula injetora. Mas, externamente, na região que está em contato com a câmara de combustão, com o uso constante de combustível ruim, pode haver problema de carbonização, o que vai tampar os orifícios responsáveis pela pulverização de combustível. "Isso vai prejudicar a formação do leque e diminuir a quantidade de combustível injetado na câmara", afirma Tedd, detalhando que esse acúmulo de sujeira prejudica o consumo e provoca falhas de aceleração no motor, entre outros problemas. Quando isso acontece, a limpeza da válvula injetora se faz necessária. Por isso, a importância da qualidade do combustível é um conceito que deve ser repassado para o proprietário, já que veículos atuais de grande vendagem merecem tantos cuidados quanto os mais avançados importados. "Por exemplo, o MSI da Volkswagen, que equipa Gol, Fox, SpaceFox e Saveiro) é um motor tão complexo que, se caso um bico injetor entupir, e o motor detectar que a explosão está fora dos parâmetros, a injeção corta aquele bico injetor. Se cortar o bico injetor em uma estrada e o motorista insistir em andar, vai dar problema no motor, chegando ao derretimento do pistão por falta de combustível", descreve o especialista.
Cuidado no diagnóstico!
Para saber se o componente está em condições ou não de ser reinstalado no veículo, existe uma série de testes além da limpeza em si, e que obrigatoriamente devem ser executados. Mas antes de tudo, ao receber um veículo com sintomas de "bico injetor sujo", passe o scanner no sistema e veja se há falhas em outros sensores ou atuadores antes de sair desmontando o motor. Além da utilização de combustível ruim, outros problemas, como o consumo elevado de óleo, também causam depósito de sujeira na ponta da válvula injetora. Ou seja, não adianta fazer a limpeza de bicos sem consertar o motor e eliminar o problema original. A sujeira pode ser sintoma de um defeito ainda maior, e não a causa em si. Fique atento!
![]() Faça um diagnóstico cuidadoso antes de limpar os bicos injetores
Ainda, independentemente de outros possíveis problemas, o mecânico deve ser capaz de diagnosticar se a válvula injetora em si está defeituosa, já que o acúmulo de sujeira pode fazer o componente trabalhar forçado e danificá-lo. Se isso acontecer, não adianta limpar: a válvula injetora deve ser substituída.
"Uma válvula injetora que travou aberta ou fechada não pode mais ser aproveitada porque já está com problema interno, e esse problema interno não tem limpeza que resolva. Se a válvula travar aberta, pode causar um calço hidráulico, e se ela travar fechada, pode causar até o derretimento do pistão", adverte Tedd. Vale lembrar que válvulas injetoras não possuem reparo. Se uma válvula for reprovada em qualquer um dos testes a seguir, substitua o componente. "Mesmo que se limpe na máquina e volte a funcionar, eu aconselho a não reutilizá-las, porque elas foram danificadas internamente e isso é perigoso para o motor", reforça o especialista.
Procedimentos
Todos os procedimentos devem ser feitos com equipamentos e produtos adequados. Orlando de Siqueira Mello é gerente Técnico da Radnaq, fabricante de produtos químicos automotivos, e esclarece que existem diversos tipos de produtos no mercado, com funções distintas. No caso do produto Ultra Clean RQ 8070, utilizado nesta reportagem, ele serve tanto para a limpeza na cuba do ultrassom quanto nos testes de vazão.
"Na cuba de ultrassom, o produto pode ser diluído na proporção de 1 para 10, mas se quiser usá-lo puro, não tem problema nenhum. No momento de fazer o aferimento, aí sim, é necessário diluir na proporção de uma parte de produto para 10 de água para que não haja efeito de espuma e se tenha a leitura correta do aferimento", esclarece Orlando. 1) Teste de resistência - Antes de fazer a limpeza com o ultrassom, é necessário medir a resistência interna das válvulas injetoras com um multímetro. Os bicos injetores de alta impedância, que são os mais comuns do mercado, possuem resistência entre 12 e 16 ?. A variação de valor pode acontecer dependendo da temperatura ambiente, mas, segundo Tedd, se estiver dentro desses valores, pode se dizer que a bobina elétrica dela está perfeita. Neste exemplo, o especialista utilizou duas válvulas: uma em bom estado (1a) e outra travada (1b). A válvula travada apresentou circuito aberto, ou seja, possui dano e não tem reparo. Já a válvula em bom estado apresentou valor de 14,7 ?.
2) Limpeza via ultrassom - O sistema varia de aparelho para aparelho, mas basicamente segue a mesma lógica. Com a adição de produto na proporção indicada, os injetores devem ser ligados e posicionados corretamente (2a). No caso dos aparelhos que utilizamos nesta matéria (Supersonic A25 e Superjet A6), no momento da limpeza, o sistema aproveita para simular regimes de rotação do motor, de forma aproximada, para acionar as válvulas e verificar se os componentes não travam em rotações altas (2b). "Às vezes pode haver a reclamação de que em alta rotação carro está 'dando para trás', o que pode significar que as válvulas não estão funcionando perfeitamente. Por isso o teste é necessário", explica Tedd. Após o tempo de limpeza, que pode variar de 5 a 15 minutos, é necessário remover o produto da limpeza de dentro das válvulas através de uma retro-lavagem (2c). Esta etapa é feita com as válvulas encaixadas no suporte e instaladas na bancada de testes de vazão.
3) Teste de estanqueidade - Este teste verifica se o injetor não possui vazamento. Após instalar os injetores e configurar o aparelho de teste, quando iniciado, o procedimento irá aplicar a pressão nominal de trabalho nos injetores, os quais devem ficar constantemente fechados durante 1 minuto (3a). Neste caso de injetores de sistemas multiponto, cada válvula trabalha com 3 bar de pressão (3b). Injetores de sistemas monoponto, por sua vez, trabalham com 1 bar ou até menos. "Não faça o teste com pressão menor do que a de trabalho da válvula injetora", avisa Tedd.
4) Teste de leque - Também chamado de "teste de jato", o teste analisa como está a pulverização do combustível pela válvula injetora. A formação do leque pode ser prejudicada se um dos orifícios da válvula estiver obstruído. As válvulas de um mesmo conjunto devem estar injetando a mesma quantidade de combustível e formando leques de combustível semelhantes (4a). Não há uma medida exata; o resultado deve vir da observação do mecânico. "Não é um tipo de teste de que se tenha um padrão para todas as válvulas de injeção. Cada tipo de válvula de injeção tem um padrão de leque", explica Tedd. (4b)
5) Teste de equalização - Este teste mede a vazão e a velocidade de abertura e fechamento da válvula injetora, também de acordo com a simulação do regime de rotação do motor. No teste do aparelho utilizado, as simulações são de 1000 rpm (5a), 4000 rpm e 6500 rpm, o que permite ver possíveis falhas em rotações altas (5b). O resultado final da vazão deve ser comparado de acordo com a medição das escalas em mililitros (ml). A variação máxima entre as válvulas pode ser de até 10% - tolerância que deve ser considerada mesmo em válvulas novas em razão da temperatura ambiente. No procedimento feito para esta reportagem, a válvula com maior vazão atingiu 21 ml e a com menor vazão, 19 ml. Isso significa que estão dentro da variação aceitável (5c).
Obs: Tedd Medeiros declara que, no entanto, o fato de as válvulas serem aprovadas em todos os testes não exime o componente de falhas. "Este é um procedimento paliativo", ressalta o especialista. "A limpeza não garante que o bico vai durar mais 15 anos. A limpeza garante que, no momento em que foi feita, as válvulas estão perfeitas. Pode ser que daqui a 10 mil quilômetros a gente tire essas válvulas injetoras e elas já não sirvam mais para uso", conclui. Portanto, cabe sempre o bom senso do mecânico no momento do diagnóstico.
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