ão surgindo na comunicação social e sobretudo nas redes sociais notícias mais ou menos alarmistas e tendenciosas sobre os malefícios do leite. Um artigo recente na revista Tabu, do Semanário Sol (3-1-2014), tinha como título “Leite – elixir da saúde ou veneno?”, com a palavra veneno muito maior que a palavra saúde. No artigo e nos vários textos que os ativistas “anti-leite” vão reproduzindo, acusa-se os lácteos de provocar alergias, intolerância à lactose, problemas de articulações, problemas respiratórios e todo um extenso conjunto de malefícios e problemas que passam quando se deixa de beber leite.
O assunto não é novo, mas tem ganho dimensão com a internet. Recordo ter lido toda essa argumentação “made in america” há cerca de 10 ou 15 anos, numa revista na sala de espera de um consultório médico.
“O leite é para os bezerros?” Dizem os “inimigos do leite” que a vaca produz leite para o bezerro e que o ser humano é o único mamífero a beber leite em adulto. São duas verdades que nada provam. De todos os alimentos que o homem “produz” ou recolhe na natureza, qual é produzido “especificamente” para o homem? Quando a macieira produz maçãs ou a batateira produz batatas, estão "pensando” na alimentação humana ou na reprodução/continuação da sua espécie? Ao longo dos milhares de anos de existência, a humanidade foi testando os alimentos que encontrou na natureza.
O leite é consumido há cerca de 10000 anos. Citando Maria Paes de Vasconcelos, comentando um post de um blog que refiro mais abaixo, “Somos os únicos mamíferos que bebem leite em adultos, mas também somos os únicos que estudam filosofia e foram à Lua (para escolher 2 exemplos ao acaso...). No desenvolvimento da nossa espécie houve um momento crucial em que se iniciou o pastoreio, e passou a disponibilizar proteína de alto valor biológico à mão sem ter de matar o animal, o que é mais econômico e "amigo dos animais" (aliás, como o ovo). A escolha de beber ou não leite é pessoal, e é possível viver bem sem ele, mas é prático (para levar na carteira/mochila, por exemplo), é adaptável (com sabores, em queijo, em iogurte...) e é barato (principalmente se comparado com outras fontes proteicas).”
Teresa Mendonça, médica, no blog http://paisdequatro.blogs.sapo.pt/, respondeu em 16.01.13 a um leitor que escreveu: “O leite não é a maior fonte de cálcio disponível, não sendo necessariamente essencial à dieta de uma criança (como muitos meninos e meninas intolerantes à lactose que nem por isso deixam de crescer saudáveis o comprovam). Até amêndoas e sementes de sésamo têm mais cálcio do que o leite (e ambos podem ser incluídos facilmente em pães ou até bolachas caseiras - em que se controla os açúcares e nem por isso deixam de ser atrativas para os mais jovens.)”
Escreveu então a médica no referido Blog:
“ Nos últimos anos têm sido muito acesas as discussões e debates sobre se o leite é ou não um alimento saudável para os humanos, em especial para as crianças. Os argumentos de um e outro lado da questão são múltiplos e por vezes extremados e pouco simpáticos (ou não fossem os nomes dos pobres animais que produzem o dito cujo - vacas e cabras - propícios a trocadilhos deselegantes). Por decreto, quando nos referimos a leite alimentar estamos falando de leite de vaca. Quando queremos falar de leite de cabra ou outros temos que especificar a origem. (…)
A decisão de ingerir ou não produtos de origem animal é uma filosofia de vida e, desde que todos os nutrientes sejam incluídos na dieta, por vezes com necessidade de recorrer a suplementos, é uma escolha que só a cada um diz respeito. Não devem ser aqui esquecidas as crianças (em especial os lactentes) que em raros casos sofrem déficits vitamínicos importantes, com sérias consequências para a sua saúde, pelas escolhas alimentares pouco informadas dos pais.
É verdade que existem alguns alimentos mais ricos em cálcio do que o leite. As sementes de sésamo ou as amêndoas (estas muito menos) são um exemplo. Agora vejamos: aproximadamente, a quantidade de cálcio existente numa porção de amêndoas integrais é 378 mg e numa de leite é 300 mg. Só que se ingerirmos a primeira estamos a consumir cerca de oito vezes mais calorias do que com a segunda. Percebe-se, portanto, porque as amêndoas não são consideradas pela FDA (órgão governamental que controla os alimentos e medicamentos nos EUA) um boa fonte de cálcio (por definição a quantidade de referência diária de um determinado alimento deve fornecer 10-19% da dose diária recomendada desse nutriente para ser considerada uma boa fonte nutricional), ainda que o seu consumo seja altamente recomendável. (…)
É verdade que o tratamento térmico que o leite sofre (com vista a destruir os organismos indesejáveis), e a sua homogeneização, alteram significativamente a fração proteica útil do leite e induzem perda de nutrientes. Aqui o que conta é o que se obtém da relação custo-benefício e ainda assim o resultado, segundo estudos credíveis de equipes credenciadas na área de Pediatria e Gastrenterologia, é positivo, reassumindo-se o leite como uma fonte primordial de proteínas e cálcio. (…)”